Coluna Economia em foco 09/10/2019- Ismael Cittadin

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A Bolsa de Valores: perspectivas para o futuro

A semana começou com a notícia auspiciosa de que o número de pessoas físicas com capital presente na Bolsa de Valores de São Paulo ultrapassou a marca de 1,4 milhão, ou 0,67% da população. Nos Estados Unidos, este percentual ultrapassa 50%, ou seja, ainda há muito espaço para crescer, mesmo levando em conta que atualmente apenas 60% da população brasileira se encontra nas classes A, B ou C (com renda familiar de ao menos R$ 2005,00). Até 2017, o número de investidores oscilava entre 500 mil e 600 mil. Porém, em fins de 2018, este número se aproximava de 1 milhão. Vejo a explicação para este fenômeno dividida em duas partes.

Primeiramente, a queda contínua e acelerada nas taxas de juros que remuneram as aplicações de renda fixa, uma das modalidades de investimento tradicionalmente mais seguras e favoritas dos brasileiros. Há farta literatura econômica internacional que descreve tal fenômeno, começando pela introdução do conceito de “preferência pela liquidez” por John Maynard Keynes em 1936 no seu livro A Teoria Geral do Emprego do Juro e da Moeda, até estudos modernos sobre a elasticidade entre diferentes ativos financeiros. A ideia subjacente é simples. A teoria da preferência pela liquidez estabelece que títulos com vencimento de longo prazo devem oferecer um prêmio pelo risco, uma vez que estão sujeitos a um risco maior que os títulos de curto prazo. Títulos com vencimento mais longo estão associados a juros mais altos, promovendo uma curva de rendimento com inclinação positiva (para cima). Diante de um cenário de baixas taxas de juros, os investidores tendem a preferir os ativos mais líquidos. Isso abre uma janela de oportunidade para outras modalidades de investimento, como mercado acionário e mercado futuro. A medida que os investidores/poupadores veem seus rendimentos decrescerem, mais deles procurarão diversificar sua carteira de ativos.

A segunda razão tem a ver, em princípio, com a primeira. À medida que o mercado de ações segue uma trajetória certa de crescimento, mais investidores novos, que nunca aplicaram dinheiro em investimentos mais complexos que poupança ou CDI, se sentirão atraídos pelo mercado. Este movimento se torna paralelo ao do aumento do mercado de serviços de educação e assessoria financeira, que promovem uma desmistificação dos mercados de rendas variáveis e produzem investidores cada vez mais capacitados e qualificados. As consequências deste fenômeno vão muito além do mercado financeiro. Quanto mais pessoas mais qualificadas para entender o funcionamento dos mercados, mais conscientização dos eleitores em relação à temas como responsabilidade fiscal, necessidade de reformas, liberalização da economia, etc. O efeito de um mercado de capitais mais ativo tende a ser benéfico para a sociedade como um todo. Creio que este movimento não deverá ser freado tão cedo, como fica claro pelo gráfico do Ibovespa abaixo.

Vejam o movimento de longo prazo, que do fundo em 2016 chegou ao redor dos 40 mil pontos, em três anos já alcançou 100 mil pontos. Há só flores no caminho? Evidentemente que não, como podemos ver pelas oscilações de curto prazo ao longo de toda a série histórica. Isto significa que, mesmo perdendo dinheiro em oscilações de curto prazo, como nas eleições de 2018 ou no “Joesley Day” de 2017, no longo prazo um investidor que tivesse adquirido ativos na Bovespa em 2016 teria, com grande probabilidade, dobrado seu investimento. Portanto, a lição que fica, se você está interessado em investir é: 1) estude, busque informações com quem já está no mercado e procure livros e conteúdo na internet e em corretoras. 2) Foque no longo prazo, pois o curto prazo está sempre cheio de armadilhas.

Tesouro Direto pagou a inflação mais 3,41% ao ano ontem

As taxas oferecidas pelos títulos públicos indexados à inflação e negociados no Tesouro Direto, programa que possibilita a compra e venda de papéis por investidores pessoas físicas por meio da internet, apresentaram alta na tarde de ontem (8), diante de um aumento de aversão ao risco no exterior.

Isso porque, após informações de que os chineses estariam hesitando em incluir no acordo com os Estados Unidos temas relacionados à sua política industrial e de subsídios, o Departamento de Comércio americano colocou 28 empresas da China em uma lista negra, por supostos envolvimentos em abusos de ordem étnica contra minoria muçulmana. A notícia aumenta as preocupações de que China e EUA não consigam chegar a um acordo comercial. A reunião entre as duas potências mundiais acontece na quinta-feira (10), em Washington.

No Brasil, destaque para o atraso da votação da reforma da Previdência no Senado, e desenho da proposta de reforma administrativa, em fase de elaboração pelo governo para envio ao Congresso, que deverá tramitar após a PEC previdenciária. Ainda no radar, mercados seguem com expectativa de que governo e Congresso cheguem a um acordo em torno da cessão onerosa.

No Tesouro Direto, o título atrelado ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), com juros semestrais e vencimento em 2035 oferecia um prêmio anual de 3,27%, ante 3,26% a.a. na abertura do dia. O investidor podia adquirir o título integralmente por R$ 4.374,31 ou aplicar uma quantia mínima de R$ 43,74 (recebendo uma rentabilidade proporcional à aplicação).

Os títulos com prazos em 2035 e 2045, por sua vez, pagavam a inflação mais uma taxa de 3,41% ao ano, ante 3,39% pela manhã.

Já o retorno do título com retorno prefixado e vencimento em 2022 recuava de 5,47% para 5,44% ao ano.

O Tesouro Direto é considerado a opção de investimento com o menor risco no Brasil e com ampla acessibilidade, dado o investimento mínimo a partir de R$ 30. Outra vantagem do programa diz respeito à liquidez, com a possibilidade de recompra diária dos títulos públicos pelo Tesouro.

O investidor pode aplicar em títulos públicos diretamente pelo site do Tesouro, se cadastrando primeiro no portal e abrindo uma conta em uma corretora, como a Rico Investimentos, por exemplo, para intermediar as transações. Atualmente, a maior parte das instituições financeiras habilitadas a operar no programa não cobra taxa de administração.

O único custo obrigatório que recai sobre o investimento em títulos públicos pelo Tesouro Direto corresponde à taxa de custódia, de 0,25% ao ano sobre o valor dos títulos, cobrada semestralmente no início dos meses de janeiro e de julho.

Professor do curso de Ciências Econômicas da UNESC – Mestre em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS e doutorando em Economia pela UNISINOS – Contato: ismaelcittadin@gmail.com