Famílias de agricultores têm mais bem-estar físico, emocional e social

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Viver no campo é sinônimo de trabalho, mas também há tranquilidade mental em meio à rotina das famílias

Da Redação

O ritmo frenético das metrópoles; a rotina diária exaustiva; a pressão contínua por resultados; a irritação, o cansaço constante, o estresse, a ansiedade ou a depressão; o trânsito intenso e a poluição. Pouco disso se vê no campo, onde há muito trabalho, mas também mais tranquilidade e equilíbrio mental.

Mesmo ao analisar os reflexos dos grandes centros urbanos na saúde e perceber que a vida no campo proporciona mais qualidade de vida às pessoas, há a necessidade de se estudar e atender as populações do meio rural. Populações rurais e urbanas possuem características diferentes nos aspectos sociais, econômicos, culturais, tecnológicos, organizacionais referentes a ocupação e consumo, além de fatores diferentes de risco à saúde: física, mental, química, biológica, mecânica e ergonômica.

Para o médico especialista em Medicina de Família Asdrubal Cesar Russo, o grande desafio brasileiro é a assistência médica dos moradores do campo, por conta da má distribuição de profissionais de saúde, que se concentram nos grandes centros urbanos e nas cidades litorâneas, fazendo com que o interior fique desassistido.

Um levantamento sobre a distribuição de médicos, enfermeiros e população mundial em relação à situação de domicílio realizada pela World Health Organization comprova a disparidade: 62% dos enfermeiros atuam nas cidades e 38% no campo; e 76% dos médicos na zona urbana e 24% na rural; para uma população dividida igualmente para os dois territórios. “Outra pesquisa revela que no último ano 30% das pessoas que residem em áreas urbanas não realizaram nenhuma consulta médica, enquanto que nas áreas rurais o índice foi de 40,5%”, expõe.

A diferença no acesso à saúde reflete nos indicadores. A região nordeste do País – que possui quase metade da população rural brasileira – tem os maiores indicadores de mortalidade infantil, influenciados pelas taxas de vacinação, ao acesso de água potável e amamentação materna. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de crianças de 12 a 23 meses com vacinação completa por situação de domicílio é de 77,5% no meio urbano e 55,2% no rural.

“O atendimento às populações rurais, às vezes, carece de estímulos e políticas públicas de saúde. O Ministério da Saúde tem instigado esse posicionamento pela atenção primária à saúde, por meio da estratégia da saúde da família, o que tem interiorizado os serviços”, analisa Asdrubal ao reforçar que os profissionais da área precisam conhecer as características regionais e de que existem muitos desafios para superar.

Muitas publicações de saúde no Brasil abordam as questões relacionadas ao trabalho do homem e da mulher do campo, principalmente as relacionadas a saúde ocupacional, psicologia, doenças parasitárias ou endêmicas (exemplo da malária na Amazônia e da esquistossomose no nordeste). Segundo Asdrubal, outro aspecto que impressiona é a alimentação. “Muitas pessoas julgam que as famílias no campo se alimentam com mais qualidade, porém nem sempre isso é possível. Aquelas que atuam na agricultura de subsistência têm menor acesso às variedades de alimentos se comparado com os moradores urbanos. Os índices de obesidade também são significativos e estão relacionados a inatividade física. É preciso diferenciar o esforço físico do trabalho e do exercício físico para manutenção da saúde, além de compreender que manter o bem-estar é mais complexo no meio rural pela impossibilidade de frequentar uma academia, de ter um educador físico ou local plano para caminhada”, explica.

Situações específicas

Os paradigmas de qualidade do sono e de ausência de doenças psíquicas de quem vive no campo também precisam ser rompidos. Dr. Asdrubal esclarece que na área rural existem vários tipos de situações estressantes, além da monotonia, do isolamento e de menos convívio social. “Essas populações, na maioria das vezes, têm mais dificuldades para manter a saúde por terem menos acesso ao sistema de saúde, ao lazer, à educação e nas possibilidades de variar as ocupações que geram renda. Quando falamos de saúde, não se trata apenas da ausência de doenças, mas sim do bem-estar físico, emocional e social que a pessoa deve ter”, ressalta o médico.

Os trabalhadores rurais estão mais expostos às situações específicas como: intoxicação aguda; subaguda ou crônica, pelo uso de defensivos agrícolas, acidentes com animais peçonhentos, contato com plantas que podem gerar intoxicações ou alergias, acidentes decorrentes do próprio risco da ocupação, ferimentos ou amputações ao operar máquinas de corte. “O que chama atenção no sul do país – pela descendência de alemães e italianos, pelo fototipo cutâneo mais claro e pela exposição ao sol – é a ocorrência do câncer de pele”, alerta ao finalizar que a cooperativa médica atua em uma região em que o agronegócio movimenta a economia regional e por isso está atenta às questões relacionadas à saúde da família rural.