Cantador vai se calar?
“Meu coração, coisa de aço, começa a achar um cansaço esta procura de espaço para o desenho da vida. Já por exausta e descrida não me animo a um breve traço: — Saudosa do que não faço e do que faço, arrependida.” (Cecília Meireles)
Atualmente, o que se chama de loucura, não passa de uma indignação sem respostas, mas quando nosso olhar se faz contemplativo em direção a um futuro feliz, creio que enxergamos os sinais de Deus.
Indignamo-nos pela injustiça social levada ao extremo e, manifesta-se em voz alta de forma a assombrar a sociedade humana. Falhamos como os bárbaros, por não sabermos exatamente o significado da palavra liberdade. Esquecemos?
Minhas palavras não nascem abraçadas. São livres e belas, presas e bravas, às vezes. Saltam, beijam, rimam ou se escondem longe de um céu livre…
Os poetas olham para o universo sem tudo ou nada ver. Pode ser o olhar calmo e profundo de Cecília Meireles; pode ser o de Ferreira Gullar, generoso, preocupado com o mundo; o de Mário Quintana, um sábio olhando a juventude; ou o de Cora Coralina, mostrando quantas pessoas cabem em uma só pessoa. Pode ser o olhar romântico de Álvares de Azevedo; ou o de Paulo Leminski, rápido e certeiro.
Ninguém tem coragem de ser um Artaud “E o que é um autêntico louco? … É um homem que a sociedade não quer ouvir e quer impedir a expressão de suas insuportáveis verdades”.
Não podemos continuar crescendo, e andando bem desconfiados em relação às verdades prontas. Ultimamente, observo piadas carregando beócios se travestindo de líderes que conduzem outros pouco iluminados em direção aos abismos.
Enquanto escrevo, contemplo com beatitude a chuva que cai, envolvendo minha alma. E as estrelas, que se espalham no breu da noite, e presas ficam na rede da saudade. São argumentações explícitas ao nosso espírito, iluminando e levando-nos a busca do profundo conhecimento da natureza humana, nossas forças e fraquezas. Quem escreve não deseja impor concepções… Quer apenas dialogar, revelar a clareza de ideias e firmeza nas opiniões.
É o presente nu e cru e de um futuro esperado e, minhas palavras estão carregadas de sentimentos, manuseadas por minhas mãos hábeis de visionários, que creem e se propõem a ajudar na construção de um BRASIL melhor.
” …Cantador canta tristeza. Canta alegria também. É de sua natureza cantar o mal e o bem. Pois ele tem dentro dele o canto que o canto tem. Por isso se o mar secar, se cobra comprar sapato, se cachorro virar gato, se o mudo puder falar, se a chuva chover pra cima, se barata for grã-fina, quando o embaixo for em cima, cantador vai se calar?” (Ruth Rocha)