Diretor administrativo, Júlio de Luca, destaca os desafios para manter atendimentos na UTI Covid-19 e planejar melhorias na instituição

Içara

Fundado em 30 de outubro de 1954, o Hospital São Donato (HSD) já enfrentou vários desafios em seus quase 67 anos de história. A pandemia da Covid-19, no entanto, elevou esse patamar, com situações até então inéditas. Em entrevista ao Jornal Gazeta, o diretor administrativo do HSD, Júlio César de Luca, destaca o aumento de preços dos medicamentos, a dificuldade em encontrar profissionais, principalmente para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas, ao mesmo tempo, enfatiza os investimentos e projetos a médio e longo prazo.

Jornal Gazeta: A pandemia exige a compra de medicamentos, equipamentos de proteção individual e vários outros itens de custo elevado. Quais são as fontes de recursos para manter esses atendimentos?

Júlio César de Luca: Os recursos são federais e estaduais. O custeio da UTI é federal e o Estado tem nos alimentado com alguns medicamentos. Nossa UTI Covid é credenciada pelo Ministério da Saúde a nível federal. É uma das poucas que foram credenciadas a este nível. Por isso, é alimentada e regulada pelo Ministério da Saúde, com um recurso de R$ 480 mil mensais. Este valor é fixo, enquanto durar a pandemia, sendo renovado este convênio a cada 90 dias.

Gazeta: Este recurso já é suficiente para cobrir os custos da UTI Covid?

De Luca: O hospital tem que pedir medicamentos para o Estado, pois os valores ficaram muito altos, devido à falta no mercado. Então o Estado tem nos fornecido os chamados ‘kit intubação’, porque, senão, não conseguiríamos dar conta de toda a situação. Apenas para ter uma ideia, um medicamento que custava em torno de R$ 7,80 passou para R$ 32,00, enquanto outro que pagávamos R$ 24,00 agora custa R$ 80,00. Além disso, não se usa uma única ampola. No caso deste que custa R$ 32,00, são usadas várias ampolas num único paciente, num mesmo dia, por exemplo, se estiver em posição prona na UTI Covid. A situação ficou bastante complexa, com custo elevado, mas o Estado não nos tem faltado, nos dando total apoio, como o fornecimento dos equipamentos para a implantação da segunda UTI, como monitores e ventiladores.

Gazeta: No começo da pandemia, houve escassez de equipamentos de proteção individual no Brasil e fora do país. A situação já foi normalizada?

De Luca: O acesso aos EPIs sim, mas alguns medicamentos estão em falta, porque entramos numa fase complicada da Covid-19. Acreditamos que estamos no topo da curva. O São Donato tem em torno de 30 a 35 pacientes internados durante o dia, UTI lotada sempre com 10 pacientes. A situação é complicada.

Gazeta: E o afastamento de colaboradores, devido à Covid-19?

De Luca: A situação já esteve pior, mas agora melhorou, pois todos os nossos colaboradores estão imunizados. Por outro lado, com a falta de profissionais no mercado, os hospitais abriram muitas oportunidades de trabalho. Assim, alguns colaboradores do São Donato começaram a trabalhar em outros locais, já que atuavam em escalas 12×36 num local e passaram a atuar também em outras unidades, porém, o corpo humano não suporta essa carga diária. Então, passamos a ter uma rotatividade muito alta, pois as pessoas estão optando por sair de um ou de outro hospital. Por exemplo, temos uma dificuldade muito grande de conseguir técnicos de enfermagem, e até mesmo os médicos para as escalas do pronto socorro, que terá atendimento com dois profissionais das 7 à 0 hora, o que soma 17 horas por dia com reforço no plantão.

Gazeta: Mesmo com a pandemia, o que está em andamento, em relação a melhorias no hospital?

De Luca: As cirurgias eletivas foram canceladas e agora começarão a retornar, com exceção de procedimentos que necessitam de anestesia geral ou leito de UTI. A Regulação Estadual está começando a liberar algumas cirurgias, já que, atualmente, Santa Catarina tem em torno de 100 mil procedimentos represados. Quando isso for liberado, haverá uma demanda muito grande de trabalho. Esperamos que, dentro de dois ou três meses, a situação da pandemia comece a arrefecer e a vida possa retornar à normalidade. Estamos trabalhando num grande investimento, com três mil metros quadrados, cinco salas de cirurgia, 15 leitos cirúrgicos, o centro de imagem e uma clínica de hemodiálise com capacidade para atender em torno de 40 pacientes. Vamos entregar, nos próximos dias, todo o projeto para o Estado, porém, estamos no levantamento dos custos da obra, pois precisamos do valor exato para apresentar esse pedido. Já temos uma conversa e o recurso está praticamente garantido.