Medos e incertezas provocados pela situação da Covid-19 podem provocar problemas como ansiedade e depressão

Da Redação

Medo de perder um familiar ou um amigo para a Covid-19, incertezas em relação à própria situação financeira ou preocupação com a saúde. Estas são apenas algumas das situações que a pandemia provocou e que exigem atenção ainda maior com a saúde mental. Enquanto campanhas são focadas no tema e atendimentos com psicólogos estão disponíveis de forma gratuita, as pessoas ainda enfrentam dúvidas e preconceitos quando precisam destes especialistas.

Para cuidar da própria saúde mental não são necessárias grandes ações, como longas férias ou viagens caras. “Isso deveria ser uma lição diária. Estamos numa era em que as pessoas dão muita importância para o ter e não para o ser. Com isto, começa um sofrimento emocional, mesmo que as pessoas não se deem conta. Por isso, é preciso cuidar da saúde mental, o que não significa parar e ir para um spa ou tirar longas férias, é no dia a dia e nas pequenas atitudes”, destaca a psicóloga Tatiane Macarini. “A psicoterapia é extremamente importante e não deve ser procurada apenas quando adoecemos, pois ela traz um autoconhecimento justamente para que tenhamos uma saúde mental com qualidade”, lembra.

A falta de tempo também é um dos fatores que prejudica a saúde mental. “Inclua na sua rotina de trabalho algo que você possa cumprir e fazer. A era do ter faz com que as pessoas entrem num ritmo frenético em que 24 horas num dia já não são mais suficientes. Aí vem a sobrecarga emocional e o sofrimento multifatorial, além da falta de tempo para conversar com pessoas queridas, como amigos e familiares”, comenta.

Sobre o atendimento profissional, Tatiane explica que a psicoterapia pode ser feita uma vez por semana ou a cada 15 dias. “O processo de atendimento e alta é um diálogo entre o psicólogo e o paciente. É como se tirássemos uma venda dos olhos para enxergar melhor a vida e as nossas relações. Às vezes não nos damos conta do quanto ocupar o nosso lugar na sociedade e na família, respeitando o do outro, é importante para a nossa saúde mental”, enaltece.

A preocupação com o passado também pode levar ao sofrimento psicológico. “Se formos olhar para a história de todas as pessoas, todos temos traumas, perdas ou sofrimentos, mas precisamos olhar para isso como um alimento para o crescimento pessoal e profissional. Não podemos ficar presos ao passado, nos vitimizando das nossos próprias histórias. A dor, o sofrimento e a angústia muitas vezes nos tiram da zona de conforto, mas também nos empurram para a frente”, salienta, lembrando que a psicoterapia proporciona uma oportunidade de valorizar a própria história.

Outra barreira é o preconceito enfrentado por quem precisa desse tipo de acompanhamento. “A história da loucura é extremamente opressora e segregadora. Muito tempo atrás, as pessoas com alguma situação ligada à saúde mental eram internadas em grandes hospitais e não recebiam tratamento, mas a clausura. Eram retiradas da sociedade por não serem bem vistas. Foi há pouco tempo que instituiu-se uma rede de atenção psicossocial no Brasil, mas temos uma grande luta pela frente, para desmistificar, pois o sofrimento mental existe e é diferente para cada ser humano. Isso não é visto em exames e acaba, muitas vezes, banalizado pelos outros, que dizem que aquela pessoa está ‘fazendo drama’, por exemplo”, enfatiza, lembrando a importância do engajamento dos profissionais de saúde na luta antimanicomial.

Além da questão emocional, podem surgir dores e outros problemas ligados à parte física. “Esses sintomas existem sim. O nosso físico responde àquilo que está mal resolvido no nosso coração e na nossa mente. O raciocínio e as emoções estão muito conectados, mas as pessoas às vezes têm dificuldade para perceber”, explica, citando que a insônia também provoca comprometimento social. “As doenças psicossomáticas existem e devem ser tratadas de forma multiprofissional”, comenta.

Se os desafios são grandes, a rede de profissionais disponíveis também. “Existem psicólogos que atendem na rede pública de saúde. Temos ainda a Unesc, que oferece atendimento gratuito à comunidade e no site do Conselho Regional de Psicologia existe uma lista de profissionais que atendem gratuitamente e online”, conclui.