O peixe de ouro

O casal abraçou a lagoa; era a lua-de-mel. Gestos simbolizavam o belo momento. Ele com vinte e três anos e ela vinte e um, jovens iniciando a vida.

Esta história é revelada por um casal maravilhoso, porém os dois já partiram desta vida e tudo começou assim.

Na primeira noite a lua-de-mel, e pode-se imaginar que foi um sonho. No segundo dia resolveram dar uma volta nas águas da lagoa e acordaram cedo. Pescar sempre foi a paixão de João; Maria gostava muito do peixe sobre a mesa na hora do jantar, pescar não. Resolveu acompanhá-lo, pois demonstraria carinho ao amor de sua vida.

Dentro de um barco antigo, saíram os dois levando uma rede e alguns anzóis para à noite festejarem a conquista, e uma fritada de peixe seria regada por um delicioso vinho importado, o preferido de ambos. Para passarem o dia levaram uma garrafa de café, sanduíches, bolo de fubá, água e algumas balas de banana para adoçarem, além da boca, o coração.

A pescaria estava ótima; era só jogar uma rede e ela voltava cheia de peixes enormes. Momento de felicidade do novo casal. Maria adorava observar a natureza exuberante; a água brilhava e na beira da lagoa lírios e antigas árvores se abraçavam uma ao lado da outra. Um silêncio e o tempo passando com rapidez.

Estava quase anoitecendo e resolveram voltar para a barraca instalada na lagoa. Maria conseguiu organizar os peixes que seu marido ia colocando dentro do barco, com coragem porque pareciam vivos deslizando em suas mãos. Os cinco sacos de peixes estavam cheios, e isto os deixavam felizes por terem realizado uma bela pescaria naquela lagoa misteriosa.

Maria estava louca para ir embora, cansada e queimada do sol, ficaram um dia inteiro quietos na pescaria. Conversaram pouco e baixinho evitando a fuga dos peixes. Maria estava contente de estar ao lado do esposo, em sua mente imaginava o número de filhos que teriam e sairia do aluguel para morar na casa nova que João construiu com suas próprias mãos. Um carpinteiro de qualidade e apreciado na cidade.

João sempre foi meio teimoso e continuava pescando, anoitecia, e ela evitava gritar que queria ir para a barraca, já estava com vontade de tomar um banho e fazer um jantarzinho simples: arroz, salada-verde e peixe frito. Seria uma delícia. João sorria de felicidade, pelo fato de estar ao lado de Maria, e nunca imaginou que ela o acompanharia numa pescaria.

De repente, sem palavras, um olhou para o outro, pois de longe observavam uma lamparina luminosa que se erguia preguiçosamente no ar da noite. Ele disse: – Maria, vamos embora! – e ela concordou, com um olhar meio assustado, sem falar e fazendo um gesto positivo com o rosto.

Após João guardar o anzol, aproxima-se deles um peixe enorme dourado, saltava na água cristalina como se quisesse chamá-los para uma festa. Momentos inesquecíveis de felicidade, pois venderiam e com o dinheiro ficariam ricos e conheceriam o mundo.

Sem falar, Maria e João resolveram seguir o peixe dourado e se aproximaram de outro barco abandonado na lagoa. Assustados e com medo desceram do barco e entraram no outro, pois imaginaram que havia ali dentro alguém doente precisando da ajuda deles.

Eis o mistério: dentro do barco não tinha nada, apenas um peixe dourado, como se fosse um presente. Maria pegou-o em suas mãos e sentiu um medo terrível; largou-o e disse para o marido que não se aproximasse dele e que era para irem embora. Ele estava pálido e lhe obedeceu. Saíram correndo e assustados e entraram no barco deles sem uma palavra. De repente, o barco desaparece, como se estivesse se transformado numa luz e fosse para outro mundo.

Esta história ainda é lembrada por alguns, tão bela e misteriosa. E os moradores de lá, alguns velhinhos açorianos com os olhares curiosos e brilhantes, afirmam que existirá na lagoa para sempre um peixe de ouro.