Caio Borges é um artista que se reinventa, através das fases de seus trabalhos. Agora, o içarense desenvolve um novo projeto, tendo como palco a cidade de Seattle, nos Estados Unidos, onde está morando atualmente. Sobre essa nova fase da vida artística ele falou ao Jornal Gazeta.

“Uma viagem inesperada provocou em mim uma realização que parecia esgotada. Em uma cidade que se movimenta diferente de mim, percebo em seus personagens uma despreocupação sem invadir, numa arrumação com democracia, sem se preocupar com estética. Mostram-se como se fosse, para cada um, um mundo diferente e possível, cada um na sua”, relata.

Observador por natureza, ele busca nesse universo a inspiração para criar. “Nas ruas o que me chama atenção é que nada é tendência de moda, e sim de se emocionar. Está nos olhos, no gesto, no caminhar e no se comportar. A cor do cabelo é como a cor do pincel, tanto que parece natural. Assim é nas estampas e nas sobreposições de elementos de acessórios e tecidos. Estampas equilibradas num salto saltando para o exagero, já acostumado e completamente dominado pelo bem-estar”, define o artista.

Ele comenta também sobre o frio, que nem se sente com tanta roupa. “Só se percebe o quente da liberdade, de que sem ditadura, deixa descansar em cada corpo uma busca divertida”, afirma.

“A noite vem, todas parecem se arrumar de vestido justo de cor escolhida, num salto que se ajeita de qualquer jeito, em posições sem frescura. Assim, sentado nas mesas de bares e restaurantes de Seattle, vejo que a mudança é possível, e relaxar e aproveitar esses personagens que vêm para me agradar e me botar a trabalhar. Que cidade incrível, que na solidão do meu trabalho, me acompanha neste meu tempo que vim buscar”, emenda.

 

Entusiasmo é a palavra de ordem para o içarense

 

O artista diz que encontrou na cidade americana pessoas extremamente educadas, me o enchem de entusiasmo. “Educação que se respeita em tudo minuciosamente, desde os mais doidos, que não te abordam, vivendo num mundo muito particular. E quando precisas, te socorrem com ligeira vontade de te ajudar para poder te deixar seguro. Realmente este é o lugar da boa e velha educação necessária”, entende.

“Sei que o que hoje me inspira não é da minha cultura do passado, mas sei que posso enriquecer o meu presente e dele fazer novas formas de expressão, num país que sempre admirei, e que de uma forma ou de outra, já faz parte da minha vida, na música, no comportamento e nos sonhos de liberdade em todos os sentidos”, acrescenta Caio Borges.

Provocado como espectador, ele conta que vê como não era acostumado, procurando fazer disso algo muito leve. “E que me transfere para um outro momento, vivenciando companhias recém apresentadas. Vejo fazer meu mundo mais integrado à possibilidade de me reinventar”, aponta.

Embora seja difícil ter intimidade com figuras tão distintas de seu universo anterior, ele revela se sentir aconchegado. “Deliciando-me e só olhando para uma composição. Aos poucos me expondo e, também, me identificando, procurando me inserir sem cometer pecados, mas ficar livre para uma busca que aceitei”, declara.

Mas o artista tem planos de retornar ao Brasil. “De tudo o que estou vivendo, tenho certeza que, quando voltar, vou levar comigo esta sintonia que estou tentando ajustar”, conclui.

 

Obras formarão acervo do novo Paço Municipal

 

O artista plástico içarense Caio Borges realizou um sonho na cidade natal recentemente. Ele oficializou a doação de 162 peças para o município, que vão integrar a galeria com seu nome, projetada para o complexo do novo Paço Municipal Ângelo Lodetti.

Borges, que morou quase uma década no Rio de Janeiro, já expôs suas telas e esculturas na Grécia, Rússia e França e em diversas cidades brasileiras. “A disposição das obras, em galeria, no novo prédio da prefeitura, será feita sob minha supervisão, objetivando melhor aproveitamento de espaço e realce das peças, bem como, melhor comunicabilidade artística com os visitantes”, ressalta o artista.

A estrutura contará com espaços expositivos para o acervo fixo do artista e exposições temporárias, por meio da curadoria da equipe técnica da galeria. Além disso, o Paço Municipal também contará com uma reserva técnica para as obras.

“Minha expectativa é de que seja um espaço que facilite o acesso, já que tudo que eu tenho fica isolado no meu ateliê e isto eu não acho muito bom. Tenho tido experiências em escolas de crianças que costumam usar meu trabalho como referência. Então, para isso e outros fins acho bom que isso aconteça”, afirma.