Mesmo com redução de julho, empresa atribui alta à guerra, contratos da Petrobras e queda no consumo

Criciúma

O diretor-presidente da SCGás, Otmar Josef Müller, reconheceu que a tarifa total do gás natural em Santa Catarina está atualmente 75% acima do valor praticado em 2020, apesar da redução média de 7,15% em vigor desde 1º de julho. A declaração foi dada durante reunião da diretoria da Associação Empresarial de Criciúma (Acic) realizada na terça-feira (22), na qual o executivo explicou os fatores que influenciam o custo do insumo no Estado.

Segundo Müller, a alta acumulada é resultado do fim dos contratos entre a Petrobras e a Bolívia, da guerra entre Rússia e Ucrânia e da desvalorização do real. “Tivemos os episódios do encerramento dos contratos iniciais da Petrobras com a Bolívia e em seguida a deflagração da guerra entre Rússia e Ucrânia. Houve também a desvalorização do real, fatores que inflacionaram o preço aos elevados valores atuais do gás”, disse. Ele ressaltou que os efeitos foram sentidos “em todo o país, principalmente no Sul e Sudeste”.

De acordo com o diretor, o consumo diário de gás natural em Santa Catarina caiu de 2,2 milhões de metros cúbicos em 2021 para 1,63 milhão em 2025. “Como os custos de transporte e distribuição são fixos, quanto menor o consumo, maior fica o custo unitário”, explicou. Müller acrescentou que “se fosse mantido o volume consumido em 2021, a tarifa hoje seria 6,4% mais baixa”.

Para que o consumo volte aos níveis anteriores, Müller avalia que seria necessário reduzir em “pelo menos 40%” o valor da molécula do gás. Ele detalhou que o preço atual em Santa Catarina é inferior ao de São Paulo apenas porque “nosso gás (molécula) está mais barato que o de São Paulo em função do mix de contratos da SCGás”. Porém, a desvantagem no transporte, por estar na ponta do gasoduto, eleva os custos finais. “Na parcela da distribuidora estamos também inferiores à de São Paulo”, afirmou.

A queda de 29% no consumo catarinense também se deve, segundo a SCGás, à migração para outras fontes como o GLP em setores industriais e comerciais; à menor competitividade do gás veicular frente à gasolina; à desaceleração de atividades industriais, como cerâmica e metalurgia; e à transferência de investimentos para outras regiões e países.

Durante o encontro, o diretor da câmara de assuntos de energia da Fiesc, Manfredo Gouvêa Júnior, defendeu mudanças no contrato de concessão da SCGás. “Tem que haver todo um esforço no sentido de rever o contrato de concessão da SCGás, de cláusulas como a que trata da remuneração do capital, inclusive sobre os investimentos”, afirmou. Para ele, sem revisão desses termos, “não vamos conseguir reverter esse cenário de perda de competitividade frente à indústria paulista”.

O presidente da Acic, Franke Hobold, reforçou a necessidade de manter o debate sobre o tema. “A oferta de gás natural e as medidas para torná-lo mais acessível para as empresas e um fator importante para manter a competitividade da nossa região frente a outros centros”, disse.

Na reunião, também foram debatidas a ampliação do uso de gás natural no transporte de cargas e passageiros, a possibilidade de importação do insumo da Argentina e a entrada gradual de consumidores industriais no mercado livre de gás, modelo semelhante ao já adotado no setor elétrico.