Audiência Pública tratou sobre a implantação do Dia Criciumense da Língua Brasileira dos Sinais (Libras) e demais melhorias
Criciúma
Inclusão e gratidão. Essas foram algumas das palavras que definiram a Audiência Pública que tratou sobre a implantação do Dia Criciumense da Língua Brasileira dos Sinais (Libras) no calendário oficial de Criciúma, a ser comemorado em 24 de abril, data em que a língua foi oficializada. A proposição trazida pelo vereador Obadias Benones lotou a Casa Legislativa na noite dessa quarta-feira e foi aprovada por unanimidade com importantes encaminhamentos sobre a temática. Um levantamento realizado indicou que há mais de 20 mil pessoas surdas na Região Carbonífera, muitas delas precisando de amparo linguístico.
Abrindo a sessão, a presidente do Legislativo criciumense, Roseli De Lucca Pizzolo, caracterizou o momento como um marco para a história de Libras na cidade. Já o vereador proponente destacou a importância de debater as bandeiras de inclusão da comunidade surda ressaltando que é de suma relevância avançar a discussão e criar políticas públicas de acessibilidade. Aliás, foi da Igreja Assembleia de Deus, da qual frequenta, que o tema ganhou corpo e parou no Legislativo. “As pessoas surdas procuravam a igreja, pois lá se sentiam acolhidas devido à presença do intérprete e queremos ampliar esse acolhimento para todos os setores da nossa sociedade”, disse.
O pastor da Assembleia de Deus Roberto Ohlweiler também esteve presente na audiência recordando que se deparou com a realidade quando precisou fazer um noivado, em 2002, de um casal surdo. “Desde então implantamos a interpretação de Libras, pois vimos essa dificuldade, mas ainda temos muitos desafios pela frente. Já estive em outros países e senti a triste experiência de não poder me comunicar e ser compreendido. E eu, como um líder, preciso me comunicar. Há pessoas que me auxiliam, mas também é uma questão de consciência. Precisamos incluir os surdos, porque eles fazem parte da nossa vida, são nossos irmão”, apontou, colocando-se à disposição.
A coordenadora da Educação Especial da Secretaria Municipal de Educação, Úrsula Silveira, falou sobre o andamento dos trabalhos na Escola Municipal Professora Maria De Lourdes Carneiro, unidade polo de surdos. Inclusive lá é oferecido curso de forma gratuita para quem tem interesse em ampliar esse universo da comunicação.
“Tivemos importantes avanços, mas vamos melhorar ainda mais. É um passo de cada vez, um trabalho minucioso, dia após dia. Defendemos todas as políticas públicas e esses anseios serão levados ao Executivo. Essa data será muito importante para a nossa comunidade surda, um momento satisfatório, o resultado de uma luta. Será um dia para lembrarmos de toda essa jornada, dos momentos difíceis que os surdos e envolvidos passam até hoje”, reforçou Úrsula, que no ato também representou o secretário municipal de Educação, Miri Dagostim.
Com participação ativa dos presentes, foi citada ainda a necessidade de mais intérpretes, especialmente em órgãos públicos, como postos de saúde e farmácias, por exemplo, e nos próprios locais de trabalho. “Muitos têm que tirar do próprio bolso para pagar um intérprete, e os voluntários não estão sempre disponíveis. Por isso que essa AP é um divisor de águas. Os surdos terão mais visibilidade”, destacou a professora, tradutora e intérprete, Johana Medeiros.
Preconceito da exclusão
Para a professora Zélia Medeiros Silveira, coordenadora do Setor de Apoio Multifuncional de Aprendizagem (Sama) da Unesc, a surdez é uma das deficiências que mais sofre o preconceito da exclusão. “Visto que, devido toda a dificuldade de comunicação, muitas vezes essas pessoas não conseguem interagir com a própria família, porque a família não compreende a língua dos sinais. Por isso a importância de fortalecimento de políticas públicas. Então para nós é uma satisfação e ficamos muito felizes com a sensibilidade dos nossos representantes de instituir esse dia da inclusão e o sentimento de que nossas metas e bandeiras estão dando mais um passo”.
Encaminhamentos
Além da implantação da data, a audiência resultou nos encaminhamentos: da presença de intérpretes em eventos e repartições públicas; inclusão de outros municípios; mais intérpretes e concursos públicos para a área, redes sociais e Detran com material inclusivo, profissionais nos bairros, mais apoio e interação com a associação, ao menos dois profissionais nas repartições públicas, criação e divulgação de cursos e alfabetização para a comunidade aprender a se comunicar e inclusão de Libras no currículo escolar.
Presença
Os vereadores Daniel Antunes, Daniel Schelp, Manoel Rozeng, Paulo Ferrarezi e Salésio Lima também estiveram presentes, contribuindo com o debate. Antunes lembrou que já foi feito um requerimento ao Município sobre a quantidade de pessoas surdas por bairros de Criciúma para um melhor estudo de viabilidade de políticas públicas de inclusão, de forma localizada.