Exportação de maçã é a mais afetada, mas pode haver consequências em outras culturas e preços

Da Redação

Caso o conflito entre Rússia e Ucrânia se estenda, a cadeia produtiva da maçã pode ser a mais diretamente impactada no agronegócio catarinense, avalia Rogério Goulart Junior, analista de socioeconomia da Epagri/Cepa. Isso porque os russos são responsáveis por 24,5% das receitas geradas pela exportação de maçã fresca de Santa Catarina. Ele relata ainda preocupação com os preços dos insumos de forma geral, que podem ser impactados tanto pela queda de oferta quanto pelo aumento do dólar.

Segundo Rogério, “no mercado internacional, o sistema financeiro projeta aumento da inflação nos países, resultante do aumento nos preços dos produtos agrícolas e redução na oferta do petróleo russo e fornecimento de gás natural para a Europa”. Ele chama atenção ainda para a tendência de elevação na taxa de juros internacionais. “No fluxo de comércio mundial, os preços de fretes, contratos e oferta de containers são afetados com a menor disponibilidade e custos mais elevados para a exportação e importação de produtos”, reflete o analista.

“No Brasil, os efeitos econômicos do conflito já começam a ser sentidos pelo aumento dos preços do petróleo, dos insumos agrícolas e dos valores das principais commodities agrícolas, o que impacta na elevação do preço da cesta básica e no custo de vida da população”, descreve o profissional da Epagri/Cepa. Ele informa ainda que a valorização esperada do dólar deve desvalorizar o real, pressionando ainda mais o Banco Central brasileiro a elevar a taxa básica de juros, o que traz efeitos negativos ao crescimento econômico.

Fertilizantes

Santa Catarina importa cerca de 2,2 milhões de toneladas de fertilizantes por ano, cerca de 900 mil toneladas são consumidas no Estado e o restante é comprado por empresas catarinenses que processam ou vendem a outros estados. Do total importado, 12,8% é originário da Rússia, da Ucrânia e de Belarus. “Embora o conflito envolva diretamente apenas Rússia e Ucrânia, a análise incluiu também Belarus, já que o país tem sido alvo de sanções internacionais e é um importante exportador de fertilizantes”, explica Rogério.

“Caso se confirmem as projeções de dificuldades na importação de fertilizantes, espera-se a elevação dos custos desse insumo, o que pressionaria os custos de produção das lavouras, resultando em prováveis aumentos de preços, especialmente dos grãos, com reflexos nos custos da produção animal”, avalia o analista. Ele destaca que, em termos nacionais, o elemento mais sensível é o potássio, cuja importação anual supera as 10 milhões de toneladas, com mais de 30% vindo da Rússia.

Milho

A Ucrânia é o 5º maior produtor mundial e importante ator no comércio internacional de milho, respondendo por 13,3% das vendas. Santa Catarina, por sua vez, possui um déficit de aproximadamente 5 milhões de toneladas por ano, montante que é suprido por meio do comércio interestadual e importações. As dificuldades de exportação do milho ucraniano, em decorrência do conflito, devem contribuir para manter os preços do milho em patamares elevados e dificultar o abastecimento do estado. Essa situação é agravada pela estiagem que afeta a região Sul do país. Por outro lado, para os produtores de milho o aumento dos preços pode estimular as exportações e melhorar sua rentabilidade, o que tende a agravar ainda mais as dificuldades de abastecimento do setor de produção animal.

Carnes

As restrições ao comércio internacional dos três países em questão não devem impactar de modo significativo as exportações catarinenses de carnes, pois suas participações no destino dos embarques são pequenas. No entanto, o aumento de custos dos fertilizantes e dos combustíveis pressionam os custos de produção da soja e do milho, cujos preços devem permanecer elevados no mercado. Isso provoca aumentos nos custos de produção das principais cadeias de produção animal. Importante destacar que o milho e a soja representam de 70% a 80% do custo de produção de suínos e aves nas granjas.

Trigo

Os reflexos do conflito já se fazem sentir pela elevação dos preços internacionais do trigo, o que deve elevar no Brasil os preços da farinha e dos alimentos derivados – pão, massas, bolachas, biscoitos, entre outros – com pressões inflacionárias e no custo de vida da população brasileira.

Os países em questão são responsáveis por cerca de 14% da produção mundial de trigo e por 30% das exportações. As importações brasileiras vêm majoritariamente da Argentina (87%). Em 2021, apenas 0,5% do trigo importado pelo Brasil veio dos países em conflito.

Tabaco

A Ucrânia e a Rússia, juntas, foram responsáveis por 6,1% do valor das exportações de tabaco de Santa Catarina em 2021. Essa participação não deve trazer maiores preocupações ao setor, uma vez que as empresas exportadoras poderão reacomodar os destinos das exportações, caso se efetivem as restrições ao envio para aqueles países.