Preços dos alimentos voltam a subir após alívio em junho

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Carnes e café puxam alta; previsão é de inflação próxima aos dois dígitos até o fim do ano

Da Redação

Após recuo de 0,18% em junho, os preços de alimentos e bebidas voltaram a subir neste mês, com destaque para carnes e café, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem (21). Analistas projetam nova aceleração da inflação no setor nos próximos meses, em razão de fatores climáticos, safras reduzidas e influência do mercado externo.

No acumulado de 12 meses, a inflação dos alimentos alcançou 6,66%. No primeiro semestre, os preços da alimentação subiram 3,69%, acima dos 2,99% do índice geral. Treze dos quinze produtos com maior alta foram alimentos. Os maiores aumentos foram registrados na manga (75,1%), tomate (56,1%), café (42,9%), pepino (40,6%) e morango (39,9%).

De acordo com o governo federal, a breve queda em junho está ligada à ampliação de estoques reguladores, estímulo à agricultura familiar, aumento da produção de insumos locais, como o milho, e políticas de crédito rural e de logística.

Para o analista de varejo Iago Souza, da Genial Investimentos, a redução nos preços foi pontual. “Para os próximos três meses, projetamos uma reaceleração dos preços de alimentação no domicílio, retomando o descompasso em relação ao IPCA cheio”, afirmou.

As carnes devem continuar pressionando os índices inflacionários, com pico previsto para o terceiro trimestre, em função do repasse de custos acumulados. Mesmo com possível desaceleração no fim do ano, os preços devem permanecer elevados. No caso do café, embora o Brasil seja o maior produtor mundial, cerca de 60% da produção é exportada, o que mantém os preços internos atrelados ao mercado internacional.

Souza explicou que “a combinação de um início de ciclo seco com excesso de chuvas no momento da colheita afetou a produção brasileira. Soma-se a isso uma menor área plantada — reflexo de anos em que o preço desestimulou o produtor”. Ele acrescentou que outros exportadores, como Etiópia e Uganda, enfrentaram dificuldades semelhantes.

Alguns itens que seguraram os preços recentemente, como raízes, tubérculos e legumes, devem voltar a subir. O tomate, por exemplo, enfrenta quebra de safra no Sul, frio intenso em áreas de altitude e atraso no ciclo de produção em estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro. A cebola, que teve aumento de oferta com a colheita de inverno no Sul, tende a subir a partir de outubro, diante do menor plantio no Nordeste e no Cerrado. “A importação da Argentina e do Chile segue limitada pelos custos logísticos e cambiais”, disse Souza, lembrando que os meses de novembro e dezembro costumam registrar os picos de preço da cebola.

Frutas como melancia, tangerina e uva podem ter aumentos sazonais no terceiro trimestre, enquanto hortaliças como alface e couve são afetadas pela baixa luminosidade e temperaturas mais frias, o que reduz a oferta. Para Souza, “a combinação de pressões em grupos relevantes e o enfraquecimento de itens que davam um alívio reacendem a hipótese levantada no início do ano: a inflação alimentar pode se aproximar de dois dígitos nos próximos meses”.

A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) avalia que a alta no custo da energia elétrica afeta os custos de produção agropecuária. “Esse aumento afeta principalmente as atividades mais intensivas no uso de eletricidade, como aquelas realizadas em propriedades que utilizam sistemas de irrigação, climatização, resfriamento, conservação, bombeamento e circulação de água, além da manutenção de sistemas de aeração”, informou a entidade.

Em junho, o IPCA geral avançou 0,24%, influenciado pelo acionamento da bandeira vermelha 1 na energia elétrica. O sócio-diretor da MAG Investimentos, Claudio Pires, afirmou que o aumento da energia exige atenção quanto ao impacto nos preços de alimentos nos próximos meses.

Mesmo com a trégua no setor alimentar, o mercado projeta a manutenção da taxa Selic em 15% até o fim do ano. O economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, afirmou que “os núcleos de inflação têm se mantido, há meses, acima do nível compatível com o cumprimento da meta [até 4,5%]”. Ele acrescentou que os serviços ainda exercem pressão inflacionária e que a sobretaxa de 50% anunciada por Donald Trump sobre produtos brasileiros pode gerar instabilidade cambial.