Porque o motoboy agiu assim? Governo do Estado mobilizou a estruturas de segurança para resposta ao crime e atendimento às famílias

Da Redação

A população catarinense ficou chocada e comovida com o ataque à creche Cantinho do Bom Pastor, em Blumenau, que resultou na morte de quatro crianças, duas de 4 anos, uma de 5 e uma de 7 anos, na manhã de ontem (5).  Outras vítimas do atentado foram atendidas pelo Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina e encaminhadas aos hospitais Santo Antônio e Santa Isabel e estão sendo acompanhadas. São cinco crianças que se encontram em situação estável e sem risco de morte. O autor dos fatos, Luiz Henrique Lima, de 25 anos, se entregou na guarda do 10º Batalhão de Polícia Militar (BPM), sendo preso e encaminhado à delegacia de Polícia Civil para providências. O fato se trata de um caso isolado e está sob investigação. Mas porque ele agiu assim? Os agentes de segurança não disseram nada ainda.

O autor do ataque

O autor do ataque tem 25 anos, é natural de Salto do Lontra, Paraná, e motoboy em uma empresa da cidade. Ele tem quatro passagens pela polícia. A primeira é de 2016 por conta de uma briga em uma casa noturna. Em 2021, ele foi preso após esfaquear o padrasto. Já em 2022, ele assinou um termo circunstanciado por estar em posse de cocaína. No mesmo ano, ele foi preso depois de quebrar um portão e esfaquear um cachorro.

O proprietário desta empresa deu detalhes sobre o comportamento e convivência com o criminoso. “Hoje era até o dia que ele estava na escala. A gente não sabe o que aconteceu. A gente tá em choque. Todo munda tá indignado, mandando mensagem. Como é que ele foi fazer uma coisa dessa. Ele nunca demonstrou qualquer violência, nunca discutiu com ninguém da empresa. Um cara muito educado lá com nós”, contou o proprietário, que preferiu não se identificar. Segundo o empresário, o autor do ataque estava com a moto da empresa quando foi até a creche. “A dele tinha estragado. Tu contrata um funcionário e não sabe o que ele vai fazer ou não”.

Atentado

Segundo relatos de funcionários do centro de ensino, o homem entrou armado com um machado e atacou as crianças. Matou quatro crianças e deixou outras quatro feridas. O Hospital Santo Antônio informou que recebeu quatro crianças de 0 a 2 anos vítimas do atentado na creche. Elas foram atendidas pela equipe de urgência e Emergência e as famílias estão recebendo apoio da equipe multiprofissional da instituição.

Ação do governo

O governador Jorginho Mello se deslocou para Blumenau ainda pela manhã. “É um momento de muita dor para Santa Catarina, para o Brasil. Suspendemos as aulas da rede estadual no município hoje e amanhã, agora estamos aqui para prestar solidariedade, estamos em um momento triste para a sociedade. Todas as nossas forças de segurança estão em Blumenau, pedimos calma, cuidado com as informações na rede social. É momento de entender, agir, colocar a cabeça para funcionar. Só quem passa por uma dor dessa pode saber o tamanho dessa tragédia”, disse.

O Governo do Estado cancelou ontem (5) e quinta (6) as aulas da rede estadual na cidade de Blumenau e declarou luto oficial de três dias. “A educação catarinense e brasileira está em luto e neste momento nos solidarizamos com todas as famílias e a comunidade em geral. Por ordem do governador, determinamos cuidado e prevenção nas escolas e estamos em diálogo com outras entidades para aumentar a segurança nas escolas. Entendemos que o trabalho em regime de colaboração também é importante para a segurança”, afirmou Patrícia Lueders, secretária adjunta de Estado da Educação.

Coletiva de imprensa

Em coletiva de imprensa com as forças de Segurança do Estado, o delegado-geral da Polícia Civil, Ulisses Gabriel, disse que o Governo do Estado criou na última semana um grupo de trabalho integrado por equipes das polícias Civil, Científica, e Militar, Corpo de Bombeiros Militar, secretarias de Assistência Social, da Saúde e da Educação. “O objetivo do grupo é estabelecer um protocolo para a atuação preventiva, com análise das estruturas escolares, para garantir mais segurança no ambiente escolar e também como atuar em situações como a tragédia ocorrida hoje”, disse.

Outro fato destacado pelo delegado-geral é o uso da inteligência policial para intensificar as ações preventivas e de monitoramento da web. Ele ressaltou que esta já é uma prática da PCSC que constantemente faz operações policiais na casa dos indivíduos que disseminam ameaças.

Ulisses Gabriel destacou também que o governador Jorginho Mello vai autorizar investimentos na área de tecnologia para ampliar os serviços de monitoramento e também vai analisar a situação da contratação de novos policiais civis por meio de concurso.

O comandante-geral da PMSC, coronel Aurélio Pelozato da Rosa, afirmou que o ocorrido na data de hoje se trata de um caso isolado. O comandante-geral relatou que recentemente foram realizados treinamentos com professores da região e no estado, com técnicas para estarem preparados para circunstâncias parecidas com a desta quarta. Além disso, providências serão tomadas para que a Segurança nas escolas seja intensificada. “Estamos realizando uma mudança na rotina dos instrutores do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) para que as aulas sejam feitas no primeiro turno escolar e, assim, o policial permanecer no local depois até o fim do turno escolar”, completou.

A perita-geral da Polícia Científica, Andressa Boer Fronza, destaca que foi efetuada a coleta e análise dos vestígios com o objetivo de materializar os fatos e compreender a dinâmica do crime. Também foram iniciados os exames necroscópicos e a identificação das vítimas no Setor de Medicina Legal da PCI.

O perito-superintendente regional em Blumenau, Tiago Lucheta, mobilizou todo o efetivo da unidade em torno do caso. Na sequência, foram iniciadas as análises e exames periciais complementares que subsidiarão as investigações da Polícia Civil. Os trabalhos contam ainda com o apoio da Superintendência da PCI em Joinville, que atua na análise e extração de dados de um dispositivo celular apreendido, assim como do setor de Inteligência do órgão pericial, que trabalha de forma integrada à Inteligência da Polícia Civil.

Condolências e medidas

Vários órgãos de governos municipais divulgaram notas de condolências às famílias atingidas pelo ocorrido. Em Içara, a Prefeitura de Içara informou ainda que esteve em contato com a Polícia Militar, Defesa Civil e Guarda de Trânsito para manter a segurança reforçada em todas as escolas e creches da cidade. Apesar de não ver motivos para o cancelamento das aulas na rede municipal de ensino, a prefeitura entende os pais que, porventura, acharem melhor manterem os filhos em casa e seus filhos terão as ausências justificadas. “Concluímos que foi um caso isolado, sem trazer risco para a cidade. De qualquer forma, entendemos a preocupação dos pais e deixaremos cada família decidir como achar melhor”, afirma Rose Margareth Reynaud Mayr, secretária de Educação, Ciência e Tecnologia de Içara.

Além de um maior efetivo em rondas nas proximidades das unidades escolares, a pasta reforçou a orientação às diretoras e gestoras para que mantenham os portões fechados durante todo o dia e que, diante de qualquer movimento suspeito, acionem o 190.

Em conjunto com o 29º Batalhão de Polícia Militar, comandado pelo tenente-coronel Eduardo Moreno Persson, um relatório será produzido para que o Governo Municipal planeje ações futuras de segurança aos estudantes com foco na prevenção, elencando onde o município pode avançar para garantir o bem-estar dos alunos e dos profissionais da educação.