Só o Governo de São Paulo, de João Dória, confirmou que vacinas estavam vencidas

Da Redação

Uma reportagem da Folha de São Paulo informou ontem haver lote vencido e aplicado na população da vacina AstraZeneca. Na manchete, a empresa jornalística diz: “Milhares no Brasil tomaram vacina vencida contra Covid; veja se você é um deles” e reforça: “Segundo registros oficiais, cerca de 26 mil doses da AstraZeneca fora da validade foram aplicadas em 1.532 municípios”.

Pesquisando o lote e os dados que a reportagem apresenta, cidades da região como Criciúma, Cocal do Sul e Lauro Müller teriam recebido vacinas deste lote vencido. Ao todo seriam cerca de 26 mil doses e Criciúma teria recebido 49 doses, Lauro Müller, 19, e Cocal do Sul, uma.

O lote que estaria vencido é o 4120Z005, com vencimento no dia 14 de abril. A Folha cruzou as duas bases —DataSUS e Sage— a partir do número do lote das vacinas. Foram consideradas todas as imunizações do país contra Covid-19 até 19 de junho e os dados constam de registros oficiais do Ministério da Saúde.

Até o dia 19 de junho, os imunizantes com o prazo de validade expirado haviam sido utilizados em 1.532 municípios brasileiros. A campeã no uso de vacinas vencidas é Maringá, no Paraná. A cidade paranaense vacinou 3.536 pessoas com o produto da AstraZeneca fora da validade (primeira dose em todos os casos).

Segundo ainda o jornal paulista, um total de 25.935 doses de oito lotes de AstraZeneca foram aplicadas fora da validade. Metade desses lotes veio do Instituto Serum da Índia; a outra metade, da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde). As vacinas desses lotes foram distribuídas de janeiro a março pelo Governo Federal para todos os estados do país antes do vencimento. Elas somam quase 3,9 milhões de doses, das quais cerca de 140 mil não foram utilizadas dentro do prazo de validade. Dessas, até o dia 19 de junho, 26 mil tinham sido aplicadas já vencidas.

Prefeituras repudiam reportagem

As três prefeituras da Amrec encaminharam à imprensa ontem notas de repúdio à Folha de São Paulo, a quem atribuem ter espalhado informações “inverídicas”. Segundo nota de Criciúma, “todos os municípios tem tomado um cuidado de analisar cada dose para garantir a segurança da população”, e considerou lamentável a reportagem que serviu apenas para deixar a população temerosa em receber as doses.

“Recebemos as doses em fevereiro e em fevereiro aplicamos”, disse o secretário Acélio Casagrande em vídeo disponibilizado nas redes sociais da Prefeitura. Ele garante que Criciúma não aplicou doses vencidas, como alegou reportagem da Folha de São Paulo. “Não ficamos mais de uma semana com doses na geladeira. E se não ficamos mais de uma semana com elas na geladeira, não poderíamos aplicar em abril doses recebidas em fevereiro”.

O chefe da Vigilância Epidemiológica de Criciúma, Samuel Bucco, disse que as doses do lote 4120Z005, tidas como vencidas, foram recebidas no dia 2 de fevereiro. “Eram direcionadas aos profissionais da saúde e aplicamos imediatamente. O Ministério da Saúde não permite que se insira dose vencida no sistema. Não conhecemos estas informações do jornal. Em Criciúma isso não aconteceu”, pontua.

Em Cocal do Sul, a mesma resposta: “Não existe a possibilidade de qualquer pessoa ter recebido vacina fora do prazo”, afirmou em nota a prefeitura. “As vacinas que correspondem ao lote número 4120Z005 chegaram no município no dia 25 de janeiro e foram aplicadas entre os dias 27 de janeiro e 1º de fevereiro. Todas as doses deste lote foram aplicadas nos funcionários da saúde do município”, afirma o texto.

Da mesma forma a Prefeitura de Lauro Müller nega aplicação de vacinas vencidas: “Todas as doses desse lote foram administradas entre 29/01/2021 e 08/02/2021, apenas para os profissionais de saúde contemplados na 1ª Fase da Vacinação. Cabe destacar que as pessoas vacinadas podem confirmar essas informações em seus próprios comprovantes de vacina”, diz a nota de Lauro Müller.

Indignação com a matéria na Amesc e Amurel

“É uma notícia inverídica”, afirmou o presidente da Fundação de Saúde de Tubarão sobre vacinas vencidas, Dasisson Trevisol, que afirma que todas as doses foram aplicadas dentro da validade. “Verificamos que todas as vacinas forma aplicadas no momento correto, sem estarem vencidas. É lamentável que ainda tem pessoas que levantam informações desnecessárias e que acabam atrapalhando o nosso serviço”, concluiu Trevisol.

E na Amesc, onde quatro cidades teriam aplicado doses vencidas, a reação foi de perplexidade. Teriam sido 20 doses em Jacinto Machado; seis em Meleiro; quatro em Timbé do Sul e uma em Balneário Gaivota.  A resposta foi a mesma, todas as vacinas foram aplicadas antes do prazo de validade.

Só SP confirma

O Governo de João Dória, claramente anti-Bolsonaro, em nota confirmou cerca de 4.000 doses ministradas após a validade. Mesmo assim, a Secretaria Estadual de Saúde paulista se eximiu de culpa e repassou o problema para as prefeituras. Disse que: “Orienta os municípios sobre a aplicação da vacinação contra a Covid-19 e a importância da verificação da data de validade antes do uso do frasco de uma vacina, inclusive com documentos técnicos com todas as condutas necessárias. Todas as grades são distribuídas dentro do prazo de validade”.