Quando eu morrer não quero flores e velas
As flores são bonitas e os espinhos? E as velas não têm um perfume, só fogo… Quando eu morrer não quero flores e velas… Penso nos escritores que morreram… Alguns nada importante deixaram, mas outros tinham o poder de seduzir através das palavras. Ou não? Vão embora e deixam livros, algumas “coisas”, lembranças ou nada… Sombras em alguns corações ou só em pensamentos. Quem se transformar em escravo do hábito morrerá lentamente. Não só o escritor, mas todos nós. Carlos Drummond de Andrade: “Por que Deus permite que as mães vão-se embora? Mãe não tem limite, é tempo sem hora… Mãe, na sua graça, é eternidade. Por que Deus se lembra – mistério profundo – de tirá-la um dia? Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei: Mãe não morre nunca, mãe ficará sempre junto de seu filho e ele, velho embora, será pequenino feito grão de milho”. Quando criança, sempre falava para a minha mãe que eu queria morrer antes dela. Ela achava engraçado, sorria e acalentava o meu coração. Ela já foi embora e se estiver me ouvindo, ouça-me: —Tiamooooo mãeeeee…. Alguns escritores só foram reconhecidos após a morte. Edgar Alan Poe ficou órfão antes de completar 3 anos e viveu na pobreza. Em 1845 publicou “O corvo”, e aos 40 anos de idade morreu. Até hoje misterioso o motivo de sua morte. E Lima Barreto? Mestiço e neto de escravos empregou em sua obra denúncias às injustiças sociais e ao preconceito racial, do qual foi vítima. Teve uma vida de constante desprestígio, crítica e preconceito. Faleceu aos 41 anos, já caído no esquecimento e na miséria. Sua obra foi resgatada décadas mais tarde e seu mais célebre romance foi o Triste fim de Policarpo Quaresma (1911). Em 1924, Franz Kafka deixou instruções que previam a destruição de todo o material inédito deixado por ele. Seu amigo e biógrafo Max Brod, entretanto, não cumpriu a vontade do escritor e publicou O processo (1925) e O castelo (1926), após sua morte. Sucesso! Encerramos com música, vamos dançar e cantar e nada de chorar. Noel Rosa: “Quero que o sol, não invada o meu caixão. Para a minha pobre alma não morrer de insolação. Quando eu morrer, não quero choro e nem vela. Quero uma fita amarela gravada com o nome dela. Se existe alma, se há outra encarnação. Eu queria que a mulata sapateasse no meu caixão. Não quero flores nem coroa com espinho. Eu quero choro de flauta, violão e cavaquinho”. Quando eu morrer, flores e velas, não!