Centro Especializado em Reabilitação (CER) da Unesc é um dos locais para acolhimento de pacientes
Criciúma
Uma em cada quatro pessoas terá um Acidente Vascular Encefálico (AVE) ao longo da vida. A doença, conhecida como derrame, é a segunda principal causa de morte no Brasil: 100 mil pessoas por ano, segundo o Ministério da Saúde, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares. A boa notícia é que cuidados relativamente simples ajudam a reduzir o risco de AVE. E no caso de quem já foi acometido pela doença, há tratamento acessível de maneira gratuita como o oferecido pelo Centro Especializado em Reabilitação (CER) da Unesc.
Hoje (29 é o Dia Mundial de Combate ao Acidente Vascular Encefálico (AVE), data que tem a finalidade de conscientizar a população sobre as formas de prevenção da doença cerebral que mais mata no Brasil.
Atualmente, 90% dos 274 usuários do Centro Especializado em Reabilitação (CER) da Unesc, tiveram AVE. O paciente entra em acolhimento no CER pelo SisReg (Sistema Nacional de Regulação), vinculado ao Ministério da Saúde, sendo encaminhado pela Unidade Básica de Saúde. Ao chegar no CER, a pessoa é atendida por dois ou três pessoas da equipe multiprofissional do CER (composta por enfermeira, fisioterapeutas, terapeuta ocupacional, psicóloga, assistente social, nutricionista, médico neurologista, fonoaudióloga e médico ortopedista).
Os usuários do Centro Especializado em Reabilitação da Unesc que sofreram AVE ficam geralmente de seis a oito meses em tratamento. O objetivo do trabalho multiprofissional desenvolvido é fazer com que o paciente alcance 100% de autonomia dentro de suas possibilidades e neste processo, uma das grandes aliadas é a Fisioterapia, que procura reestabelecer a funcionalidade motora promovendo autonomia do paciente.
Casos de AVE aumentam entre população jovem
Apesar de atingir com mais frequência quem está acima dos 60 anos, o AVE pode ocorrer em qualquer idade. Entre os pacientes atendidos pelo CER, houve um aumento de casos de AVE em pessoas entre os 35 e 45 anos, o que pode estar atrelado ao atual estilo de vida da população.
O professor do curso de Medicina da Unesc, profissional do CER e médico neurologista, Eraldo Belarmino Júnior conta que a cada seis segundos, uma pessoa morre vítima de AVE no mundo. Além disso, atualmente, a doença é a principal causa de incapacidade.
O AVE gera a interrupção da passagem do sangue no sistema nervoso central. Segundo o professor da Unesc, existem dois tipos de AVC: isquêmico e hemorrágico. O primeiro, causado por obstrução da circulação de sangue em um vaso no cérebro e o segundo, pelo rompimento de uma artéria cerebral, ocasionando sangramento.
“Sorria, Abrace, Música e Urgência”
O neurologista conta que nos serviços de saúde, especialmente o Samu, se trabalha com o lema “Sorria, Abrace, Música e Urgência”, para orientar a população sobre como detectar que outra pessoa está sofrendo um AVE. “Se a pessoa está um pouco confusa, peça para ela sorrir. Um desvio labial pode ser sinal da doença. Peça também para ela te abraçar. Se ela tiver perda de força ou dificuldade para movimentar o braço, pode ser AVE. Já no caso da musicalidade, peça para ele ou ela falar ou cantar e perceba se está com a fala enrolada ou arrastada. A partir do momento que você tem algumas dessas alterações, ligue para o Samu (192) pedindo ajuda para atendimento”, explica.
Outros sintomas como dor de cabeça forte de início súbito, vômitos em jato, tontura e perda de equilíbrio, dificuldade para engolir ou confusão mental podem estar associados à doença.
Belarmino afirma que quanto mais rápido for o atendimento, maior a possibilidade de minimizar as sequelas e prevenir a morte. “O quanto antes o paciente receber atendimento, melhor. Uma medicação que desfaz o trombo ou coágulo aplicada em até 4h30 após o início dos sintomas reduz o índice de mortalidade e o de sequelas. Se o caso for um vaso maior obstruído, há a possibilidade de procedimento neurocirúrgico. O ideal, neste caso, é que em até 6 horas esse paciente esteja recebendo atendimento adequado”, conta.
Acidente Vascular Cerebral e Covid-19
A Covid-19 tem influenciado diversos aspectos da vida das pessoas, e há uma relação entre a pandemia e os casos de Acidente Vascular Encefálico. Segundo o professor, com a necessidade de distanciamento social, fatores que contribuem para o aumento do AVE, como sedentarismo e má alimentação, aumentaram na população.
Além disso, evidências científicas sugerem que o novo coronavírus (Sars-Cov 2) infecta outros órgãos e pode afetar outros sistemas, sendo que doenças cerebrovasculares estão entre as complicações e comorbidades de pacientes infectados pelo vírus. Segundo o professor da Unesc, um estudo recente desenvolvido na China avaliou 214 pessoas com Covid-19 hospitalizadas e detectou que 36% destes pacientes teve manifestações neurológicas incluindo doença cerebrovascular aguda.