Alguns pacientes encaram a doença naturalmente, mas outros não gostam de se identificar por causa da discriminação
Içara e Balneário Rincão
A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) veio para mexer com a cabeça das pessoas. Mesmo aqueles que não pegaram a doença acabaram aumentando o nível de ansiedade. Mas, os que foram infectados e se curaram encaram a rotina pós-covid-19 de forma diferente. Alguns encaram a vida normal e recomeçam a trabalhar e a voltar na convivência familiar e social. Já outros não gostam de falar que passaram pela experiência e preferem o silêncio para conseguir superar na doença.
A psicóloga Gabriela Mendes Rodrigues ressalta que no período de pandemia aumentou muito o nível de ansiedade, com alguns pacientes apresentando piora, principalmente aqueles que já possuíam algum transtorno. “Alguns pacientes novos desenvolvem um medo patológico no tempo de pandemia”, pontua a psicóloga. Ela explica que existe várias situações como as pessoas que se recuperam bem, que possuem uma boa estrutura, tem aquela pessoa que já possuía história de depressão e transtorno de ansiedade, que o quadro agravou, e também os novos pacientes que desencadearam algum tipo de transtorno. “Outras pessoas apresentam medo excessivo, como medo de pegar a doença, medo de dormir, medo de sair de casa, medo de ir ao supermercado, um medo patológico praticamente”, fala Gabriela.
Medo do afastamento das pessoas
Um dos pacientes que pegou o novo coronavírus é servidor público, mas preferiu não ter o nome identificado. Ele conta que sentiu os sintomas de gripe em um dia e na madrugada seguinte já estava com dificuldades de respirar e com tosse. Ele foi internado no hospital e depois de alguns dias teve o quadro agravado. Enquanto esteve na ala clínica, respirava com ajuda de oxigênio, mas num dia as dificuldades de respiração aumentaram e teve que ficar três dias internado na UTI.
Segundo relatou, após os dias na UTI começou a melhorar a respiração e não ficou com muita falta de ar. Ele acrescenta que um dos sintomas é a falta de paladar. Dois dias depois de ser liberado da UTI, o paciente teve alta e começou a recuperação em casa, sofrendo ainda um pouco de fraqueza. “É uma doença que eu desejo que ninguém venha a sofrer com ela. Um dia antes de ser encaminhado para a UTI foi o momento mais difícil, mas graças a Deus consegui a cura”, ressalta. Ele acrescenta que não gosta de falar que teve a doença, porque as pessoas ficam com medo, mesmo sabendo que já está imune. “É muito triste a gente perceber que as pessoas estão te evitando. Isso não ajuda em nada”, conta.
Encarando com naturalidade
Enquanto uns não gosto de se identificar, outros já encaram com naturalidade a passagem pela doença e, mesmo sabendo que estão assintomáticos, tomam todos os cuidados. O comandante da Polícia Militar de Balneário Rincão, sargento Reginaldo Rizatki (fotos) contou o drama que passou ao ter contraído a Covid-19. Ele disse que existe o estigma que a pessoa que pegou é uma fábrica de contaminação, que não é verdade. A pessoa que contrai o vírus deve continuar se cuidando, até em respeito ao próximo. “Foi uma experiência de vida bem complicada”, contou o sargento, que tem 52 anos e não possui comorbidades.
Ele relatou que no dia 10 de julho começou a sentir os primeiros sintomas, com muitos calafrios e febre, mas que pensou ser uma gripe tomando remédios antigripais e antitérmicos. Neste período estava em casa de licença da polícia. Depois desta semana em casa, como os calafrios e a febre não passavam, resolveu procurar o hospital realizando novos exames que atestaram negativos, com o médico receitando medicação e mandando voltar para casa, avaliando que já estava em fase final de contaminação.
No dia 16 de julho começou a sentir falta de ar e tosse, mas como teria que voltar a trabalhar foi até o quartel em Criciúma e fez mais um exame. No teste rápido deu negativo, mas como estava com os sintomas, o médico da corporação mandou voltar para o hospital. O sargento realizou novos exames e uma tomografia, recebendo o primeiro resultado positivo para a doença. No mesmo dia já ficou internado no hospital e começou o tratamento com cloroquina e antibióticos. “Já estava com muita dificuldade de respirar e me colocaram no oxigênio”.
Segundo ele, nos dias seguintes continuou com muita falta de ar e diarreia, mas permanecendo no quarto, onde passaram muitos pacientes. Alguns ficavam por alguns dias e já recebiam alta, outros já eram encaminhados direto para UTI. “Neste momento questionei o médico, porque uns iam embora mais rápidos, enquanto outros já tinham sintomas mais forte”. O médico disse que era uma doença muito nova e que ainda não existe resposta para ela, por isso as pessoas reagem diferentemente e não se tem certeza sobre ela.
Depois do décimo dia de internação, o sargento foi apresentando melhoras e parou o uso de cloroquina e passei a tomar xarope para a tosse. Ele ficou mais três dias no hospital e recebeu alta. O sargento conta que depois que retornou para casa ainda teve dificuldade de respirar e teve um princípio de trombose, voltando ao médico que constatou apenas serem câimbras nas pernas em razão da medicação e de ter ficado por muitos dias internado no hospital.
Passados dez dias da alta, ele conta que ainda não está 100% curado, pois ainda sente dificuldade de respirar quando precisa fazer um trajeto maior. O sargento sempre costumava ir a pé de casa até a sede da PM no Centro, em Balneário Rincão. Agora, vai de carro.
Rizatki está convivendo normalmente com a família e ao sair para ir a qualquer local, costuma seguir todos os cuidados como o uso e máscaras, álcool em gel e higienização das mãos.
Parecer médico
O médico Celso Tadeu de Menezes, especialistas em doenças respiratórias, explicou que é normal o cansaço sentido pelos pacientes que enfrentaram o tratamento da Covid-19. Menezes esclarece que nas duas primeiras semanas é normal o paciente sentir o cansaço, pelo fato de estar mais fraco, devido à falta de paladar e não ter tanto apetite. Uma das recomendações do médico é a pessoas fazer fisioterapia para o fortalecimento muscular e para voltar a ter uma vida normal.