A Retomada do Crescimento?
A reorganização das contas públicas e a condução da política econômica continuam se mostrando os pontos mais fortes deste governo, à exceção, talvez, da política de segurança pública. As contas nacionais para o terceiro trimestre de 2019 mostram isso com clareza. Após o primeiro trimestre caindo e o segundo trimestre patinando, o terceiro trimestre do ano trouxe algum alento em termos de crescimento econômico. O PIB trimestral, comparado trimestre a trimestre cresceu 0,6%. Em relação ao terceiro trimestre de 2018, o crescimento foi de 1,2%. Já o crescimento acumulado neste ano foi de 1%, o que bate a meta mais otimista do mercado para o ano de 2019 inteiro. O PIB da indústria foi acrescido em 351 bilhões de reais. O da agropecuária em 76 bilhões, e o dos serviços em 1,15 trilhão de reais. No geral, os investimentos cresceram em 2%, puxados fortemente pela formação bruta de capital fixo, ou seja, construção civil e máquinas e equipamentos industriais e agrícolas.
Quanto ao nível de emprego, segundo o CAGED foram criadas 842 mil vagas só em 2019, o maior nível desde 2014. E ainda estamos esperando os resultados do quarto trimestre, que historicamente tem um efeito sazonal extremamente positivo devido ao Natal e fim de ano.
Os economistas do Ministério da Economia (ME) já tratam o Natal de 2019 como o melhor dos últimos 5 anos. Tal confiança é corroborada pelos resultados observados da última “Black Friday”. Foi observado crescimento substancial das vendas em todas as regiões do país, com o Norte liderando com 44%, seguido do Centro-Oeste, com 39%, depois o Nordeste, com 34%, Sudeste com 22% e sul com 13%. No Brasil como um todo, o crescimento total nas vendas foi de 16,5%. A valorização do setor de varejo na bolsa de valores é uma das respostas imediatas a este crescimento.
Segundo o ME, a implementação de medidas de ajuste fiscal, o encaminhamento de reformas estruturais, em especial coma aprovação da Nova Previdência, e as propostas legislativas que apresentam formas adicionais de correção da má alocação dos recursos da economia foram preponderantes para que as expectativas e os indicadores econômicos superassem o pior momento em agosto/2019, ou seja, a economia brasileira saiu do “fundo do poço”, com inflação sob controle e juros baixos. A partir de setembro/2019, a economia brasileira passou a apresentar indicadores consistentes de retomada do crescimento. Contribuiu para a melhora a liberação do saque imediato do FGTS. O ajuste do setor público conteve o avanço do déficit e abriu espaço para a queda dos juros futuros e a expansão do setor privado (efeito crowding-in), de forma que o ritmo do PIB do setor privado já se aproxima do patamar de 2% ao ano. Os efeitos dessa agenda virtuosa com toda certeza se propagarão ao longo do ano de 2020 e 2021, produzindo um crescimento substancial da economia.
A avaliação positiva também é corroborada pela teoria econômica e pelo mercado internacional. Segundo a teoria dos ciclos reais de negócios, o Brasil estaria no limiar de um novo ciclo de crescimento na fase conhecida como de recuperação ou expansão (boom), que se refere ao período de crescimento da atividade econômica agregada desde seu nível mais baixo até o nível mais elevado. A mesma teoria indica que a Zona do Euro e os Estados Unidos estariam no ponto de expansão máxima, ou peaky-turning point, logo após o qual a economia inicia sua fase de ajustamento, que envolve estagnação e até mesmo recessão. Estes dados são corroborados pelos estudos recentes da consultoria americana Capital Group.
Há ainda um dado curioso. O consumo do governo vem caindo trimestre a trimestre, o que é resultado da política de arrocho fiscal do governo. O consumo das famílias, porém, vem crescendo no mesmo período, assim como a economia como um todo. Aqui há um indício da capacidade de geração de riqueza do Brasil que não está viciado em dinheiro público, e que pode ser a locomotiva do crescimento dadas as condições ideais. É preciso que o mito do Estado empreendedor caia por terra para que essas condições sejam criadas. Isso significa mais privatizações, mais desregulamentação e mais opressão do povo contra o Estado, e não do Estado contra o povo.
Professor do curso de Ciências Econômicas da UNESC, mestre em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS e doutorando em Economia pela UNISINOS.
Contato: ismaelcittadin@gmail.com