Vinhetas inesquecíveis

De costume, embelezava suas toalhas com carinho, crocheteando-as com linhas finas de seda… Estava só e, olhava de soslaio as fotografias nos porta-retratos, expostos no balcão da sala. Retratavam-se os filhos, o marido e uma cunhada. O tempo passou rápido, quase cinquenta anos! Estavam bem arrumados! Trajavam-se os homens de ternos pretos e camisas brancas, bem passadas e de longe um brilho celestial. Quanto as mulheres, usavam vestidos longos, maquiadas e belos penteados. Pareciam princesas!

De repente, soltou lentamente a agulha de crochê e, voltou a ler um livro, que estava ao seu lado, sobre a cadeira de madeira envelhecida pelo tempo. Apreciava a biografia de Steve Jobs, escrito por Walter Isaacson. “As pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo são aquelas que o mudam”. Não lhe faltava sabedoria e nem finura, talvez se julgasse com certa malícia…

O inverno era a melhor de todas as estações e a lareira nunca deixou de ser formidável; no inverno e durante todos os outros meses contemplava-a com carinho, imaginando como seria quando o inverno chegasse de novo. Seu talento era tão espontâneo; semelhante ao desenho que o pó faz nas asas de uma borboleta. Tinha tanta consciência disso quanto a borboleta, não ligando para o fato de que seu talento poderia desaparecer.

A casa ficava próximo ao mar aberto. Resistia furacões, mesmo sendo antiga, mas continuava sólida como uma montanha. No lugar seguro para tomar banho de mar, ainda jovem, seminua ou dentro dos longos vestidos refrescava-se. Impossível hoje, pois o envelhecimento não lhe permitia sentir as delícias da água…

Quando chegava a primavera o perfume das flores. O colorido do jardim modificava a cidade. Escancarava as janelas da casa e via o mar sendo presenteado. O pastor de cabras subia a rua tocando sua gaita de foles. Ao redor de si as cabras olhavam, dobravam os pescoços como se fossem turistas.

Anoitecia, e mais tarde deitava-se na cama… E através da janela aberta, observava a lua cheia que passeava no céu. O vento e uma série de nuvens brancas corriam com a rapidez de grandes pássaros brancos, ora ocultando a face da lua, ora a conservando com uma limpidez maravilhosa. A alegria da paz noturna tomava conta do seu coração. Em seguida dormia e a lua se libertava inteiramente das nuvens.

A história mostra uma mulher fazendo uma viagem sentimental, deixando-nos vinhetas inesquecíveis escritas com amor e saudades. Destaca pequenas alegrias de uma vida incomum, a transformação da menina em mulher e, revela a rara nobreza de um espírito amadurecido.