Uma aula diferente
O professor de História entrava na sala de aula e questionava: — Estudaram? Sempre a mesma pergunta e, um olhava para o outro sem nada falar.
Sempre apreciei os acontecimentos históricos e, um dia, solicitei informações sobre as baleias.
Respondeu-me: — Meus alunos são pedras preciosas! Então, hoje será uma aula diferente!
A indústria baleeira foi inaugurada no Brasil no início do século XVII, cuja influência é oriunda dos bascos instalados na Bahia. Em 1614, a Coroa estabeleceu o Monopólio e, controlou os impostos e a qualificação social dos seus administradores e, destino dos produtos da pesca. Portugal, permitiu a indústria baleeira no Brasil Colonial, e as principais produtoras de óleo foram a Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina.
Fiquei imaginando ao observar o professor de História: “Sua insuperável habilidade nos cativava, mas dentro daquele homem pacato existia um general adormecido.”
— Professor, aprendi que a atividade mais perigosa exercida pelos escravos, naquela época, acabou sendo a pesca das baleias e, seus patrões, recebiam de acordo com o número de baleias pescadas. E o óleo das baleias?
O professor demonstrou um ar de alegria e, continuou:
— O óleo foi o principal produto da indústria baleeira, utilizado para iluminação, liga para construções, cera para velas, cosméticos e outros. Em tanques no engenho de frigir derretiam a gordura tirada da baleia. Em média, de 12 a 20 pipas de óleo, retiravam de cada baleia. Em Santa Catarina, foram construídas 4 das 6 ou 7 armações baleeiras.
Todo este trabalho maltratava os escravos, pois exerciam esta função dia e noite. Permaneciam no trabalho até os 30 anos, no máximo, porque já não tinham mais saúde. Morriam por dentro e por fora.
Lembrei-me de Castro Alves e declamei: “Sê pobre que importa?/ Sê livre… és gigante/ Bem como os condores dos píncaros céus!/ Arranca este peso das costas do Atlante / Levanta o madeiro dos ombros de Deus.”
Muitas palmas recebi. Passei para os alunos a biografia de Castro Alves. Foi um poeta iluminado que defendeu os escravos. E mais uma pergunta:
— Professor, quando decaiu a produção da indústria baleeira, no Brasil?
Respondeu-nos: — Em 1789, o período decaiu sem recuperação, devido a redução do número de baleias pescadas. O motivo da extinção era a concorrência inglesa e norte-americana, pois pescavam as baleias em alto-mar, antes de chegarem à costa. A falta de competitividade da indústria baleeira brasileira e destas técnicas falhas, pode ter sido, o privilégio do monopólio que entravou um maior avanço técnico e, constituiu tempos depois, um dos fatores de sua decadência. Em algumas armações, com a inadimplência dos pagamentos dos administradores locais e dos trabalhadores escravos, havia fugas, e até mesmo utilização da estrutura da armação por pescadores estrangeiros, principalmente norte-americanos.
No século XIX, as armações baleeiras começaram a desaparecer. A maior parte das armações não foram compradas, e a administração, tanto da Coroa quanto do Império, não foi cuidadosa e não conseguiu levantar novamente a indústria baleeira.
O professor andava pela sala falando sem parar. Usava brilhantina no cabelo, um lenço perfumado no bolso do paletó e colarinho engomado. Algumas vezes, durante as aulas, deixei de prestar atenção… Apreciava a beleza dos penhascos e das rochas, erguidas contra o céu. Trazia a beleza para dentro da sala, enchendo-a de lírios selvagens e outras flores.
O professor continuava explicando:
— Até meados do século XX, no Rio de Janeiro, São Paulo e em Santa Catarina, as armações foram sendo abandonadas, restando apenas 2 armações na Bahia, que já estavam em mãos de particulares, e continuaram as atividades.
Atualmente a vida das baleias é respeitada! No dia 19 de fevereiro de 1986, a Comissão Baleeira Internacional declarou a moratória global proibindo a caça de baleias para fins comerciais.
Bateu o sinal e a aula acabou. Foi uma aula diferente!