Estudo da Epagri revela que cultivo de macroalgas pode gerar renda extra para produtores catarinenses com créditos de carbono
Da Redação
Um estudo conduzido pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) revelou que as macroalgas Kappaphycus alvarezii, cultivadas no estado, possuem uma significativa capacidade de capturar carbono atmosférico através da absorção de dióxido de carbono (CO₂), um dos principais responsáveis pelo efeito estufa. A pesquisa, publicada na última sexta-feira (25), indica que, com a produção em toda a área aquícola catarinense, seria possível capturar cerca de 2.569,59 toneladas de carbono anualmente, reforçando o potencial ambiental e econômico do cultivo.
Os pesquisadores usaram uma metodologia internacional para estimar a quantidade de carbono que poderia ser captada pelas macroalgas em Santa Catarina. “Esse tipo de cultura marinha é capaz de absorver carbono de maneira eficiente e sustentável, oferecendo ao estado uma alternativa promissora no mercado de carbono”, explica Alex Alves dos Santos, pesquisador da Epagri e coautor do estudo. A previsão é que, com a regulamentação em curso do mercado de créditos de carbono (CC) no Brasil, essa prática se torne uma fonte de renda complementar para os produtores, sem gerar aumento de custos.
O governo federal, atualmente, está desenvolvendo normas para regulamentar o comércio de carbono no país, com o objetivo de incluir os créditos de carbono como uma alternativa para que setores econômicos cumpram suas metas de redução de emissões. Quando essa regulamentação entrar em vigor, os produtores de macroalgas poderão comercializar os créditos de carbono adquiridos por meio do cultivo, gerando receita adicional. “Esse mercado tem potencial bilionário no Brasil, especialmente com o setor agropecuário e energético se beneficiando diretamente”, aponta o artigo publicado na revista científica Agropecuária Catarinense, onde o estudo está disponível para acesso em inglês.
Outro ponto destacado pelos autores, Alex Alves dos Santos e Luis Hamilton Pospissil Garbossa, é a vantagem dos quatro ciclos de produção anuais das macroalgas, um diferencial importante em relação a outras culturas agrícolas. “Enquanto culturas como a soja produzem uma ou duas safras por ano, as macroalgas oferecem até quatro ciclos anuais, o que potencializa a captura de carbono”, exemplifica Santos. Esse aumento na frequência produtiva eleva a quantidade total de CO₂ removido da atmosfera, potencializando os ganhos ambientais e econômicos.
O mercado de carbono surgiu no âmbito do Protocolo de Quioto em 2005, estabelecendo um valor econômico para cada tonelada de carbono que deixa de ser emitida. Desde então, os créditos de carbono têm sido negociados globalmente, permitindo que empresas e países que não atingiram suas metas de redução adquiram esses créditos para compensação. No Brasil, sete projetos de lei sobre a regulamentação desse mercado estão atualmente em tramitação no Congresso Nacional, com o objetivo de criar o Sistema Brasileiro do Comércio de Emissões, a ser apresentado na próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-30), em Belém, no ano que vem.
Para os produtores de Santa Catarina, o estudo da Epagri representa uma oportunidade para diversificar as fontes de renda e contribuir com a mitigação das mudanças climáticas. Especialistas indicam que o país possui potencial para se tornar um grande exportador de créditos de carbono, com previsão de gerar cerca de US$ 100 bilhões em receitas até 2030. “A combinação entre o crescimento do setor e o avanço na regulamentação pode colocar o Brasil em posição de destaque no mercado global de carbono”, concluem os autores do estudo, destacando a importância de preparar os produtores para acessar esse promissor mercado.