Dados são para o segundo semestre; em Içara, confecção é o terceiro setor industrial que mais emprega
Da Redação
O setor de confecções de Santa Catarina deve registrar um crescimento de 2,12% na produção industrial em 2024, revertendo a trajetória de queda iniciada em 2021. A expectativa de recuperação é do Boletim de Conjuntura Econômica do setor, elaborado pela Federação das Indústrias de SC (Fiesc). Para o segundo semestre, a previsão é de incremento de 4,89% frente a igual período de 2023 (dados dessazonalizados). A indústria catarinense de confecções é a maior do país, e o setor têxtil e de vestuário é o maior empregador do estado com 178,7 mil vagas de trabalho. Em Içara, é o terceiro setor industrial que mais emprega, com 1.117 vagas, atrás somente dos materiais plásticos (1.286) e produtos alimentícios (1.546).
O economista-chefe da Fiesc, Pablo Bittencourt, explica que o crescimento estimado para o primeiro semestre – de 0,77% -, embora pareça tímido, dá início a um movimento de retomada dos níveis de produção no segmento de confecções em SC. No centro dessa dinâmica está o consumo das famílias. “O impacto da queda da Selic leva um tempo até ser totalmente incorporado, e combinado com o aumento da massa salarial e com níveis de desemprego caindo, o consumo das famílias tem favorecido a produção de bens de consumo, como vestuário”, explica.
O estudo da Fiesc mostra ainda que essa tendência de crescimento do setor de confecções em Santa Catarina tem sido superior à média brasileira. O presidente da Câmara Têxtil, de Confecções, Couro e Calçados da Federação, Giuliano Donini, explica que o estado tem uma vocação de grande integração na cadeia têxtil confeccionista, o que permite que as empresas encontrem fornecedores de insumos e serviços dentro do próprio arranjo produtivo do estado. “Os grandes varejistas brasileiros enxergam que SC tem um equilíbrio entre custo, velocidade e qualidade, que atende de forma muito mais satisfatória a expectativa do mercado”, afirma.
O economista-chefe da Fiesc, destaca, no entanto, que o nível de endividamento dos brasileiros vem recuando muito lentamente, o que poderá restringir a intensidade da recuperação do setor. “Para que em 2025 haja um novo fôlego no movimento de consumo, é importante que se retome o ciclo de redução da taxa básica de juros, estimada para iniciar entre março e abril”.
Para Giuliano, a capacidade de consumo médio do brasileiro pode estar chegando no limite e não será capaz de sustentar o crescimento do setor no longo prazo. “Precisamos entrar num círculo virtuoso que leve em conta uma desoneração da produção, estimulando o crescimento da indústria nacional, gerando empregos, renda e consequentemente mais recursos disponíveis para um novo ciclo de consumo”, explica.
Taxação de importados
Outro fator que pode trazer impacto positivo para o setor a partir do segundo semestre é o início da taxação de 20% sobre compras até US$ 50 (PL 914/2024). A medida, ainda que positiva, não é suficiente para promover equidade de condições competitivas entre os produtos importados e os nacionais. A indústria brasileira é submetida a uma elevada carga de impostos, enquanto o produto importado, mesmo com a nova taxação, chega ao mercado pegando muito menos tributos.
A importação catarinense de artigos de confecção e acessórios passou de US$ 665,4 milhões em 2022 para US$ 834,1 milhões em 2023, um aumento de 25,35%. “A disparidade na tributação cria condições desiguais de preços, favorecendo os importados, ainda mais considerando que o ticket médio do varejo de confecções brasileiro é muito próximo a US$ 50. A taxação alivia, mas não atende à necessidade de isonomia tributária para garantir a manutenção de empregos no setor”, salienta Pablo.
Na avaliação de Giuliano, apesar de insuficiente, a taxação das importações até US$ 50, aliada à alta do dólar, contribui para que o varejo doméstico recupere parte das vendas perdidas para as plataformas de e-commerce. “Quando a gente pensa em favorecer o consumidor brasileiro, não é taxar os importados, mas criar condições igualitárias entre o produto que vem de fora e o que é produzido aqui dentro. A tendência é de que os produtos nacionais seriam mais competitivos, o que permitiria que o brasileiro consumisse mais, gerando mais demanda, mais produção e consequentemente mais emprego, entrando num ciclo virtuoso”, avalia.