Na casa da minha avó
Todos os anos, saíamos de uma pequena cidade, Sombrio, e íamos visitar nossos avós. Meu avô, Pedro, buscava-nos em Turvo. Descíamos do ônibus e corríamos até a carroça, pois daria continuidade até outra localidade, cujo nome não me lembro. Eu e meus dois irmãos, Paulo e Luiz, alegria inexplicável, pois lá nos aguardavam com as quitutes e os carinhos da vovó. Meu avô tirava do bolso balas de banana e, jogava-as sobre nós, e dizia: “Agora quem manda são vocês!” Minha mãe se comovia e disfarçadamente quase chorava. Percebia algumas lágrimas em seu rosto, tão lindo!
Na casa da minha avó tinha uma enorme mesa de madeira, cadeiras de palha e um fogão de lenha. Brilhavam as panelas, a chaleira e o bule. Nós corríamos em volta da casa, enquanto não nos chamassem para desfrutarmos das delícias da vovó. O dia passava rápido… Anoitecia, os mais velhos oravam o terço e os pequenos o Santo Anjo do Senhor. Ainda cedinho, acordávamos e nos encontrávamos com o sol e, o café da manhã já estava colocado na mesa com esmero. Que alegria, pois parecia estarmos no céu. No gramado um velho ipê. Brincava no chão, banhava-me e perfumava-me com as flores.
Uma vez fiquei assustada, chegou na casa da vovó um homem estranho vendendo anéis, brincos e braceletes. Usava um chapelão de aba caída, camisa aberta no peito e botas grosseiras. Com barba comprida, castanha, espessa e emaranhada. A exaustão revelava-se na linha da boca e no canto dos olhos. Minha avó não quis adquirir nada, agradeceu, serviu-lhe água e só. Meu avô desapareceu naquele dia, e minha avó não se importava, pois ele sumia e voltava com algo que lhe agradasse. Trouxe inúmeros peixes e minha avó expressava alegria. Minha mãe preparou o jantar: peixe frito, pirão d`água, salada…
Ouvia muitas histórias, principalmente após o jantar. Meu avô Pedro, recordava-se dos ataques indígenas e, numa das incursões pelas matas, descobriu vestígios de minério e pensou ser prata. Despertou-lhe muitos projetos e ambições, porém devido já estar em idade avançada, esqueceu-se das matas, abandonou-as.
Admirava a velha estante na biblioteca, cativando-me os livros enfileirados… Entre eles “O Retrato do Rei – Romance” de Ana Miranda”, “O Van Gogh roubado” de A.J. Zerries e “Os donos da cidade” de José Paulo Teixeira. Um dos meus lugares preferidos! Além dos livros, uma tela de Cristo na parede, e me fazia voltar as aulinhas de Educação Religiosa, uma bênção.
O tempo voava e tínhamos que ir embora. Era uma choradeira só, porque queríamos ficar para sempre na casa da minha avó!