Atendimento rápido e eficaz foi decisivo para manutenção da vida. Socorristas do Samu de Criciúma relatam detalhes desde o acionamento até a ajuda ao soldado Esmeraldino
Criciúma
Era primeiro de dezembro, por volta de 00h10, quando a equipe da unidade de suporte avançado do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) de Criciúma recebeu um acionamento em código vermelho. O pedido de socorro vinha de um hotel próximo ao 9º Batalhão da Polícia Militar. De imediato, o médico Matheus Bett Neto, o enfermeiro Rodrigo Medeiros Ronzoni e o condutor socorrista Emanoel da Silva se deslocaram de ambulância.
No momento, acontecia o maior assalto da história de Santa Catarina. Um grupo de 30 homens, com armamento pesado, sitiava a cidade, atirava contra o batalhão, assustava a população e assaltava a agência do Banco no Brasil, localizada na área central, de onde levariam a quantia estimada em R$ 80 milhões.
Os profissionais ainda não sabiam, mas a vítima, que aguardava o atendimento, era o soldado da Polícia Militar Jeferson Luiz Esmeraldino, baleado com um tiro de fuzil por um dos criminosos. O trajeto para socorrer o militar foi complicado e de muito medo para os profissionais. “Pedi para o condutor não ligar a sirene nem as luzes da ambulância para não chamar a atenção, porque podíamos ser alvejados. Não tínhamos conhecimento do que estava acontecendo e do que nos aguardava”, conta o médico Matheus.
Próximo do local, a equipe encontrou um ônibus obstruindo a pista e teve que realizar uma manobra por cima da calçada para conseguir chegar ao destino. “Quando entramos no hotel, já vimos alguns policias com armas em punho e fomos avisados por eles de que o soldado Esmeraldino estava alvejado no chão do prédio”, relembra.
Ao avistar o policial deitado de barriga para cima e com um tiro na região do tórax, os socorristas iniciaram os procedimentos para salvar a vida dele que duraram de quatro a seis minutos. “Ele estava lúcido, mas um pouco lento por conta do choque hemorrágico e da hipóxia (diminuição da quantidade de oxigênio no sangue). Enquanto eu conversava com o soldado e avaliava o ferimento, o enfermeiro foi rápido e já realizou um acesso venoso. Depois de uma avaliação breve de vias aéreas, tórax e circulação, pedi para o policial mexer as pernas para ver se não havia lesão de coluna, em seguida, já com as intervenções feitas e ventilando melhor, o levamos rapidamente para o hospital”, recorda.
Durante o socorro veio um pedido do policial para que o ajudassem. “Isso me marcou muito. Tirou um pedaço de mim. Mas ali a gente precisa ser forte e trazer o paciente para a vida de novo”, relata o médico do Samu.
Treinamento vira realidade
Em outubro de 2019, a Prefeitura de Criciúma, em conjunto com o Serviço Aeropolicial (Saer) e a Secretaria de Segurança Pública do Estado, realizou um curso de ferimento por arma de fogo com os profissionais do Samu e de diversas forças em sua sede. A capacitação foi uma amostra do que dois meses depois o médico Matheus vivenciaria. “Posso até dizer que foi igual ao que presenciamos no salvamento do soldado. O instrutor do treinamento e policial civil experiente em atendimento pré-hospitalar de combate, Marcelo Esperandio, nos ensinou muito bem a como avaliar e conter riscos e a realizar um atendimento rápido e preciso. E foi exatamente o que tivemos que fazer no dia do assalto. Por isso, a importância dos treinamentos e das preparações”, observa.
Pelo menos uma vez por ano, os profissionais passam por capacitações. “Buscamos estar presente em todas que o município é convidado e a realizar uma própria por ano. Visamos muito o aperfeiçoamento das nossas equipes. Essas aulas práticas sempre são baseadas nas possíveis necessidades ou demandas enfrentadas pelos colaboradores da saúde e da segurança”, explica a gerente do Samu de Criciúma, Cristiane da Luz Rodrigues.
A história se repete
É a segunda ocorrência desse tipo que o Samu presta atendimento. Em 2016, o cabo da Polícia Militar Sérgio Crispim, que estava de folga, foi baleado com quatro tiros, dois no abdômen e dois na perna, durante um assalto em frente à agencia do Bradesco, no bairro Pinheirinho. Uma das responsáveis por prestar socorro ao militar foi Cristiane. “O Samu consegue realizar um primeiro atendimento rápido e eficaz e quando se trata de urgência e emergência, pode ser a diferença entre salvar ou não uma vida”, afirma.
Na UTI há mais de 15 dias
O soldado Jeferson Luiz Esmeraldino segue internado na Unidade Intensiva de Saúde (UTI) do Hospital São João Batista. O quadro é grave. Segundo o boletim da 6ª Região da Polícia Militar de Santa Catarina, emitido na noite dessa terça-feira, dia 15, ele segue com cuidados intensivos, com picos febris e necessidade de ventilação mecânica.