Pesquisas identificam novos sintomas ligados à Covid-19

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Médico e professor da Unesc, Rafael Ostermann aponta diferentes reflexos da doença em pacientes da região

Criciúma

Após meses de pesquisas a análises de pacientes infectados com a Covid-19 em todo o mundo, aos poucos a ciência tem encontrado novas evidências para o combate à doença. Entre as descobertas já relatadas em estudos estão o aparecimento de sintomas diferentes dos principais mencionados até então como tosse seca, febre, dificuldade para respirar e cansaço. Ao acompanhar de perto a situação da pandemia na região, participando ativamente do projeto SOS Unesc Covid-19, o médico e professor da Universidade, Rafael Ostermann, afirma que entre as novidades está o aparecimento de sintomas cutâneos e gastrointestinais.

Há um mês, em 8 de abril, dermatologistas na França alertaram ao público e aos profissionais de saúde sobre estas “manifestações cutâneas”, que acreditam também estar associadas ao coronavírus. Em um comunicado, a União Francesa de Dermatologistas (SNDV) disse que criou um “grupo no WhatsApp de mais de 400 dermatologistas” que notaram “lesões cutâneas” que podem estar associadas com sintomas da Covid-19.

Conforme Ostermann, estes sintomas são considerados atípicos da doença, que, com o avanço das pesquisas, já mostra que vai muito além de uma doença respiratória ou hematológica como citado até então. “Até agora a medicina têm focado o conhecimento em cima de quadros pulmonares, inclusive esse é o mote dos direcionamentos das triagens, porém, nós já sabemos que vem sendo cada vez mais relatados na literatura casos de lesões dermatológicas e ligadas ao sistema gastrointestinal”, afirma.

Entre as diferentes manifestações do vírus, de acordo com Rafael, podem estar o aparecimento de alterações locais na pele, por vezes resultado de alterações vasculares que se manifestam na pele. “Existem, por exemplo, algumas lesões que podem aparecer nos pés e nas mãos. São lesões avermelhadas que muitas vezes se parecem com bolhinhas de pus, o que chamamos de erupções. Isso pode ocorrer em torno de 19% dos pacientes e já nos estágios mais avançados da doença”, salienta.

Ainda entre as manifestações cutâneas, de acordo com o médico, podem estar as chamadas vesículas, erupções vesiculares, algo parecido com um herpes e que é mais comum em pacientes de meia idade.

Outras possibilidades relacionadas à lesão em pele, conforme Rafael, estão as chamadas urticariformes e erupções maculopapulares. “A urticariforme, parece uma urticária, uma reação alérgica. Ela pode se espalhar por todo o corpo e em geral faz com que o paciente sinta uma coceira bem intensa. Já as erupções maculopapulares, presentes em 50% dos pacientes, são lesões mais elevadas, como uma placa avermelhada”, explica o professor.

Já no que diz respeito aos sintomas gastrointestinais, ligados à sua especialidade, conforme Rafael, não é tão claro o diagnóstico ligado à Covid-19. “Os sintomas gastrointestinais tão ou mais frequentes nos pacientes com o vírus, porém são muito inespecíficos. Nós não conseguimos, baseados na sintomatologia, na clínica digestiva, dizer que um paciente tem alta probabilidade de ter a Covid”, comenta.

Já entre os relatos citados na literatura, ainda conforme o médico, estão casos de dores abdominais intensas principalmente no lado direito, o que leva ao diagnóstico de uma possível apendicite. “Alguns casos chegaram a ser operados por conta dessa forte suspeita, porém quando em cirurgia foi descoberto, eu na verdade, tratar-se de uma inflamação nos gânglios, nas ínguas que ficam em volta do intestino, o que chamamos de adenite mesentérica”, acrescenta.

Como os sintomas elencados se manifestam em casos já mais avançados da doença, de acordo com Rafael, os protocolos e orientações seguem priorizando o diagnóstico através dos sintomas listados como principais. “É preciso tomar todas as medidas de prevenção com uso constante de máscara fora de casa, saídas apenas se necessário e higienização das mãos com álcool gel ou água e sabão em todas as situações. Os sintomas de alerta continuam sendo a febre, a tosse seca e o cansaço acima do normal do dia a dia”, instrui.