Irresponsabilidade, oportunismo e populismo
O mundo entra em pânico devido a uma pandemia originada na China. As economias nacionais que já esticavam ao máximo possível a corda do ciclo de crescimento, agora correm o risco de entrar em parafuso. Não precisamos apontar culpados por esses fatos, embora a irresponsabilidade da OMS e o vício do controle social da ditadura chinesa estejam no banco dos réus. Precisamos organizar a atividade econômica e o planejamento hospitalar para fazer frente à esta catástrofe.
O que vimos nas últimas semanas em Santa Catarina foi um verdadeiro show de irresponsabilidade, oportunismo e populismo por parte do governo estadual. Em um primeiro momento, aplaudido por tomar medidas pesadas de confinamento e isolamento social, o governo agora está claramente às apalpadelas no escuro, sem saber o que fazer. Prova disso foi o fim da quarentena a ser decretado neste dia 1/4 e que, para parecer cuidadoso, o governador cancelou na última hora inspirado nos prefeitos de alguns municípios da grande Florianópolis e da própria capital, ignorando que é naquela mancha urbana que estão localizados a maioria dos casos, a maior densidade populacional e um grande número de aposentados e servidores públicos que não seriam tão afetados pela continua paralização como é o resto do estado que depende da indústria e comércio.
No âmbito do planejamento hospitalar, os únicos esforços que percebemos são algumas barracas do exército montadas em centros de triagem. Leitos de UTI, já escassos normalmente, continuam na base dos 800, com crescimento praticamente zero. Enquanto em São Paulo, o Pacaembu virou um grande hospital de campanha, aqui o governador decide jogar a culpa no governo federal – depois de parasitar a onda bolsonarista para se eleger, diga-se de passagem. Nem sequer EPI foram adquiridos para os funcionários do sistema estadual de saúde.
Quanto a medidas para segurar a economia estadual do precipício no qual ela está despencando, não vemos praticamente nada. O Badesc lançou uma linha de crédito para empresas, cuja captação pode ser de R$ 15 mil a R$ 150 mil reais a juros de 0,3%. Bom, não é? Exceto que o valor total da linha é de ridículos R$ 50 milhões de reais. Se considerarmos que cada empresa não captará mais de R$ 15 mil, temos um total de 3 mil empresas atendidas em um universo de mais de 800 mil empresas ativas. Eu ficarei absolutamente chocado se o senhor Moisés for reeleito no pleito de 2022.
Falando em irresponsabilidade, ela não tem só guarita em nossos governantes. Ficou famoso nos últimos dias o senhor Átila Iamarindo ao profetizar 1 milhão de mortes e corpos empilhados nas calçadas até agosto. Sua mágica consistiu em extrapolar o conjunto de dados de tamanho irrisório, sem falar em nenhum momento em intervalor de confiança, nível de significância e baseando-se em UM ÚNICO ESTUDO CIENTÍFICO, algo que se qualquer aluno em um trabalho em qualquer área do conhecimento fizesse, ganharia um merecido zero por não confrontar suas conclusões com a literatura disponível sobre o tema, e não apenas com um estudo. E para coroar o show do senhor Átila, ele ganha audiência no programa Roda Viva e propagandas da Chevrolet na sua conta do Twitter. Eu espero sinceramente que este senhor seja acionado na justiça por provocar pânico na população.
Professor do curso de Ciências Econômicas da UNESC, mestre em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS e doutorando em Economia pela UNISINOS.
Contato: ismaelcittadin@gmail.com