Coluna Economia em foco – 18/12/2019

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Perspectivas para 2020

Quando no futuro próximo for necessário olhar para trás, para 2019, a impressão que ficará é que este foi o ano do ruído. Ou mais precisamente o ano do ruído branco, uma sequência de dados sem qualquer informação, com igual intensidade em diferentes frequências. Boa parte dos analistas na imprensa trataram de seguir a linha do ruído ao longo do ano, enquanto o país vai sendo reconstruído – bem reconstruído em algumas áreas, em outras nem tanto. Para o ano de 2020 será necessário purgar o ruído a fim de que a tendência de longo prazo seja capturada pelos analistas e por todos os tomadores de decisão, pois o próximo ano poderá definir a tendência geral da próxima década.

Na economia

A virada observada nos últimos meses tende a ser repetida ao longo do próximo ano. As variáveis pró-cíclicas da economia, como emprego, investimento, formação bruta de capital fixo e produção industrial vêm demonstrando contínua melhora. Este resultado vem da melhora das expectativas dos agentes econômicos via melhora do ambiente de negócios, sendo que boa parte dessa melhora se dá pela aprovação das reformas estruturais neste governo (Nova Previdência) e do governo Temer (teto fiscal, reforma trabalhista), não há motivo para esperar um grande solavanco nos próximos trimestres. Há outros fatores importantes que estão produzindo a recuperação econômica atual: as novas regras do FGTS, que têm o potencial de diminuir drasticamente a inadimplência ao mesmo tempo que incentiva o consumo, a melhoria da infraestrutura via conclusão de obras inacabadas e grandes concessões, a liberalização do mercado aéreo, a melhoria dos índices de criminalidade, privatizações e cortes de gastos que estão produzindo uma queda no consumo do governo e na dívida ao mesmo tempo que estimulam a diminuição da taxa de juros básica.

É preciso levar em conta que ainda há uma caixa de ferramentas de estímulos a ser utilizada, e seus efeitos ainda não apareceram ou apenas começaram a aparecer. Algumas reformas importantes passaram e outras devem voltar à pauta no início do próximo ano, o que deve aumentar ainda mais a confiança dos investidores e fazer o risco diminuir. Recentemente, a agência de risco Standard & Poors definiu a nota da dívida soberana brasileira como estável com tendência de alta, o que significa mais aporte de capitais internacionais.

No setor externo

O maior risco ainda enfrentado pela economia brasileira ainda vem de fora, das políticas econômicas e comerciais de grandes players, cujos resultados sobre nossa economia são completamente exógenos e independentes da nossa vontade. A disparada recente do dólar, e, na verdade, a alta volatilidade dele na maior parte do ano, é fruto das incertezas quanto à política comercial dos Estados Unidos e da China. Portanto, uma guerra comercial entre os dois maiores negociantes do mundo traria consequências nefastas para o Brasil. Investidores não gostam de incertezas, e quando elas surgem, eles tendem a levar seu dinheiro de mercados emergentes para mercados seguros, como o americano. A consequente alta no câmbio pressiona não apenas preços de combustíveis, devido à política da Petrobrás, mas os preços em geral (inflação). Fatores externos totalmente atípicos também podem levar a problemas aqui, como a também recente alta dos preços das carnes motivada pela perda da produção chinesa de carne suína.

Na política

É preciso dar o braço a torcer à articulação política deste governo. Cercado de inimigos no parlamento, foi capaz de aprovar uma reforma da previdência dificílima e inúmeros outros pontos, o que é admirável, visto que este parlamento é o que mais derrubou vetos de um presidente na história recente. Pode-se levantar o argumento de que a classe política entendeu o momento histórico e soube protagoniza-lo, mas deve-se reconhecer, mesmo que este seja o caso, o trabalho do executivo. Portanto, é possível dizer que o fantasma de uma séria crise política está, por hora afastado, com todos os jogadores finalmente escolhendo seus lados e o contorno ideológico dos partidos ficando cada ver melhor definido. As eleições de 2020 deverão ser um grande indicador da capacidade deste governo de continuar implementando seu projeto com maior ou menor dificuldade.

Feliz Natal e próspero Ano Novo! – Professor do curso de Ciências Econômicas da UNESC, mestre em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS e doutorando em Economia pela UNISINOS. Contato: ismaelcittadin@gmail.com