Economia em foco – 20/11/2019

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Na última semana, Brasília sediou a XI Cúpula do BRICS. O grupo formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul não é uma associação de comércio formal ou um bloco econômico, como o são o Mercosul e a União Europeia. A intenção, ainda nos tempos do governo Lula (mas não idealizado apenas por ele) era formar uma associação entre países emergentes com características similares em termos de mercados e desenvolvimento socioeconômico como forma de alcançar objetivos econômicos comuns e alavancar a posição geopolítica do bloco frente aos Estados Unidos e à União Europeia. Quanto ao primeiro objetivo, ele representa interesses geopolíticos principalmente da Rússia e da China, uma vez que os países democráticos do bloco podem facilmente se posicionar de um lado ou do outro do xadrez mundial de acordo com os resultados eleitorais, como vemos aqui e na Índia, ultimamente. Já o primeiro objetivo pode abrir novos horizontes para o Brasil.

Juntos, os países do agrupamento reúnem 42% da população mundial, 33% do PIB global e contribuem com 43% do crescimento da economia mundial. A Índia cresceu quase 6% em 2017, e em 2018, a economia do país teve uma expansão de 7%. A China continua crescendo a um ritmo de 6% ao ano. Os lanterninhas do grupo são a Rússia e o Brasil, com aumento do PIB abaixo de 2%.

Segundo estudo disponibilizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Brasil receberá neste ano US$ 621 milhões do Novo Banco de Desenvolvimento (New Development Bank – NDB), instituição financeira criada em 2015 pelo grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o BRICS. Nos três primeiros anos de operação da instituição, foram aprovados quatro projetos brasileiros que abrangem as áreas de energia renovável (eólica, solar e hidrelétrica), construção de estradas, reconstrução de rodovia férrea, esgotamento sanitário, telecomunicações e refinarias da Petrobras. Os dados são do estudo Arquitetura Financeira Conjunta do BRICS: o Novo Banco de Desenvolvimento, lançado nesta quarta-feira, 17, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA – TD 2463 – Arquitetura Financeira Conjunta do BRICS: o Novo Banco de Desenvolvimento – Luciana Acioly, Rio de Janeiro, março de 2019).

O estudo estima que o déficit de investimentos em infraestrutura nos países em desenvolvimento seja de US$ 1 trilhão a US$ 1,5 trilhão por ano. Criado para oferecer crédito a projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nos BRICS e em outros países em desenvolvimento, o NDB aprovou, entre 2016 e 2018, 30 projetos num total de US$ 8,1 bilhões. Segundo a pesquisa, quase um terço do valor se destina a financiamentos no setor de transporte, enquanto 26% é direcionado à energia limpa. Além desses setores, o banco também é voltado para projetos contemporâneos nas áreas de mobilidade urbana e rural, eficiência na oferta e uso da água, proteção contra enchentes, infraestrutura (social e urbana) e produção limpa (atividades poupadoras de emissão de CO2).

Um aspecto muito interessante é a participação do Brasil como acionista no NBD. O Brasil, como um dos cinco acionistas do NDB, já aportou US$ 1 bilhão até 2019 e deverá destinar mais US$ 1,050 bilhão para a instituição até 2022. Até o momento, o banco já recebeu aportes de US$ 5,3 bilhões de seus sócios fundadores, e a meta de integralização do capital até 2022 é de US$ 10 bilhões. O estudo destaca que o NBD é o único banco em que o Brasil tem poder igualitário de voto, entre os vários bancos multilaterais de que o país é acionista.

Expectativas para a Economia

O relatório Focus trouxe algumas novidades na semana de 18 de novembro. Pela primeira vez em várias semanas a mediana da expectativa de inflação para 2019 variou para cima, com o IPCA passando de 3,26% quatro semanas atrás para 3,33% nesta semana. Este resultado pode ter correlação com outros dois do relatório. Maior expectativa de crescimento da economia em 2019, de 0,92%, e expectativa da elevação do endividamento líquido do setor público, de 56% do PIB para 56,15%. A expectativa para a taxa SELIC de 2019, entretanto, não sofreu qualquer variação, mantendo-se em 4,5% ao ano. A expectativa do câmbio não sofreu qualquer variação também, ficando em 4,00 R$/US$, tanto para 2019 quanto para 2020.  A expectativa para a atividade econômica para 2020, entretanto, teve um aumento relativamente expressivo. Era de 2,0% quatro semanas atrás e hoje os analistas do mercado esperam que o país cresça ano que vem 2,17%, o que indica uma melhora sensível nas expectativas dos agentes econômicos quanto à performance da economia como um todo.

Quanto ao balanço de pagamentos, que reflete as contas externas do país, o mercado espera uma piora de suas contas. Segundo os analistas que formam as medianas do relatório Focus, o saldo em conta corrente do Brasil deve ficar negativo em 35 bilhões de dólares em 2019, uma piora em relação à última semana, cuja expectativa era déficit de 34,7 bilhões de dólares, marcando cerca de dois meses seguidos de piora no indicador. No entanto, essa piora é esperada devido ao aumento da atividade econômica e consequentemente aumento das importações, pois ela se dá via queda no saldo da balança comercial, que o mercado espera superávit de 46,4 bilhões de dólares, uma queda em relação aos 48,5 bilhões de dólares de quatro semanas atrás.  A expectativa para o investimento estrangeiro direto (IED) no país, os investimentos que empresas e fundos estrangeiros fazem no país em capital, manteve em 80 bilhões de dólares.

Professor do curso de Ciências Econômicas da UNESC, mestre em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS e doutorando em Economia pela UNISINOS.

Contato: ismaelcittadin@gmail.com