Gerimunda
Gerimunda abandonou o noivo no altar, seu pai lamenta até hoje o despropósito da filha, alegando que ainda tinha um sonho para realizar.
Fui até a casa da noiva. Leôncio era um homem honesto e trabalhador e ela numa idade avançada, estava mais que na hora de construir uma família. Qual seria o sonho? Perguntava-me, afinal não é normal uma mulher reagir assim, abandonar o noivo em busca de um sonho. E assim seguia o nosso diálogo, apresentei-me e logo Gerimunda começou a interagir sem modéstia, um tanto orgulhosa e reservada em seu diálogo.
– O motivo pelo qual não me casei disse ela, não foi uma decisão fácil. Incidentalmente cometi um erro. Pelo qual me penitencio sinceramente. Para lhe dizer a melancólica verdade, sou praticamente uma sonhadora…
Nos dias que seguiram, fui novamente à casa de Gerimunda movida pela curiosidade… Imaginei que um Agente Secreto poderia desvendar o mistério, mesmo assim resolvi dar uma de especuladora e, como dizem os colhedores de alfazema em minha cidade natal, vi-me de novo entrando naquela masmorra, a bater as portas amarelas e envelhecidas pelo tempo. Isso aconteceu num sábado, reagi esplendidamente, como boa criaturinha que sou. E nesta visita, foi um grande feito de minha parte, bati na porta e lá vem a Gerimunda, assustada, perguntou-me:
– O quê quer saber? Diga-me de uma vez! Observei que a mesma transmitia indisfarçada antipatia por mim, surgiu com uma bandeja vazia, colocou-a com um baque seco sobre uma cadeira do corredor. Fiquei sem graça e disse:
– A senhorita pode revelar qual é o sonho que deseja realizar, motivo pelo qual não se casou?
Ninguém pode imaginar que situação tive que passar, quando de repente a mesma pede para acompanhá-la até um quarto velho no fundo da casa e disse:
– Só não me casei por causa disto! Abre um baú e dentro sabe o quê existia? Um brilho espetacular dourado que embelezava o baú, um sonho! Questionei:
– Você só deixou de casar por causa de uma caixinha? Ela não me respondeu. Fiquei indignada, mas de repente ela abre a caixinha e dentro estava um… Lindo de viver! Um anel verde e dourado! Resumindo, não se casou porque ama outro, pensei! Perguntei:
– Você não se casou por quê? Afinal este anel, nada tem a ver, não é? Ela sorriu e disse: – O anel é fruto de um sonho… Acordei, tudo isto não passou de um sonho! Acredite, dormi e sonhei com a minha tia velhinha que se chama Gerimunda.