Imigrantes – maioria ilegais – tem evitado até ficar nas ruas após aviso do presidente Donald Trump

Todos os dias, inúmeras pessoas entram nos Estados Unidos, em busca de uma vida melhor. Entre eles, muitos da região Sul de Santa Catarina, principalmente de Criciúma, cujo alto número de imigrantes chegou a originar uma pesquisa científica.

O problema, é que a maioria destes imigrantes estão vivendo no país de maneira ilegal. E nos últimos anos, têm vivido com medo.

Desde que assumiu como presidente dos Estados Unidos, em janeiro de 2017, Donald Trump tem realizado uma série de medidas que coloca em risco as pessoas que vivem nesta situação. Antes mesmo de ser eleito, já havia chamado a atenção pela principal promessa de campanha: a construção de um muro entre os EUA e o México – e ele segue tentando construir o muro.

O ex-morador de Criciúma, Júlio (nome fictício), que mora nos Estados Unidos há dois anos e seis meses, conta que após a eleição do Trump, algumas coisas mudaram. “Eu cheguei logo depois que o Donald Trump assumiu a presidência. Mas o que posso observar é um misto de medo com esperança. Pois o que o Trump tem atacado não são os imigrantes, mas sim as leis de imigração, que são cheias de brechas e alguns pontos pouco específicos”, afirma.

Futuro incerto

Segundo ele, o futuro dos imigrantes é incerto, mesmo com documentação legal. “Isso porque o foco do presidente está nas leis de imigração. Sendo assim, essas leis podem afetar a todos, pelo menos no futuro e nas próximas gerações”, explica Júlio.

Ao ser questionado sobre a possibilidade de uma deportação em grande escala, Júlio responde que, na visão dele, muitas pessoas estão chegando na fronteira e entregando-se para os oficiais e essas pessoas entram no pais sem dar nenhum tipo de antecedentes e ficam no país trabalhando enquanto esperam pelo resultado do processo de asilo.

“Situações como essas é que estão na mira do presidente. Além, é claro, de imigrantes que cometeram algum tipo de crime. Pessoas que trabalham, tem uma vida honesta e pagam os impostos como deve ser, eu acredito que não tem com o que se preocupar”, pontua.

Medo diário

Outros porém, relatam viver com medo diariamente. Principalmente após a ameaça de uma deportação em massa, marcada para o último domingo.

Carlos (nome fictício) está há quatro meses nos Estados Unidos. Chegou no país com a mulher e os dois filhos, acompanhado de um casal de amigos. Neste período, já encontraram um lugar para morar, escola para as crianças e emprego. Mas o medo é constante.

“O clima é de terrorismo. O Trump quer deixar as pessoas com medo. Você fica com medo de bater o carro, e ao chamar a polícia, ser preso e deportado. Tem medo que arrombem a porta e levem todo mundo. Aqui corremos muito e estamos conseguindo dar um pouco mais de conforto para os nossos filhos. Mas não é fácil viver assim”, relata.

Deportação em massa

Comunidades de imigrantes nos EUA viveram um dia de tensão, no último domingo, à espera da megaoperação de prisão e deportação em massa prometida pelo presidente Donald Trump. Em entrevista à CNN, Ken Cuccinelli, diretor de Serviços de Imigração e Cidadania, confirmou que as detenções haviam começado, embora ativistas diziam que a situação era normal na maior parte das grandes cidades americanas.

Na semana passada, Trump havia anunciado que prisões em massa começariam no fim de semana. O objetivo da Agência de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês) seria deportar 2 mil imigrantes em pelo menos dez cidades: Atlanta, Baltimore, Chicago, Denver, Houston, Los Angeles, Miami, Nova York, São Francisco e Nova Orleans – em razão da passagem do furacão Barry, no entanto, as operações nesta cidade teriam sido canceladas.

No domingo, a festa da comunidade latina de Baltimore, a pouco mais de uma hora de Washington, estava marcada para começar ao meio-dia no Patterson Park. Mas pouca gente apareceu. “As pessoas estão com medo”, afirmou um dos organizadores, Pedro Palomino, dono de duas publicações para os latinos na região.

O foco das prisões são famílias recém-chegadas aos EUA que já tenham processo de deportação em curso. No entanto, autoridades americanas anunciaram que poderão fazer apreensões “laterais”, além do foco inicialmente previsto pela ICE.

Com o anúncio de que as detenções começariam neste domingo, o pânico se espalhou entre as famílias de imigrantes. Na sexta-feira e no sábado, agentes da ICE circularam em estações de metrô de Nova York e em bairros de maior concentração de imigrantes. No sábado, segundo relatos de moradores de Baltimore, agentes chegaram a bater na porta de imigrantes, mas não encontraram ninguém.

Asilo

Além disso, Trump estabeleceu uma nova exigência para imigrantes em busca de asilo no país. O anúncio foi feito pelo governo americano na segunda-feira.

De acordo com a nova regra de imigração, a pessoa que queira pedir asilo nos EUA terá que ter o asilo negado em algum outro país que seja rota para os Estados Unidos. Dentre as exceções estão os estrangeiros que demonstrarem que solicitaram refúgio em pelo menos um país e seu pedido foi negado em última instância; quem entrar na definição de “vítimas de uma forma grave de tráfico de pessoas”; e que tenham transitado em seu caminho para os Estados Unidos por países que não fazem parte da Convenção de Refugiados de 1951, ou do Protocolo de 1965.