PALAVRAS

Rastrear recordações não raro nostálgicas, e acender a nossa imaginação, basta pensar. E lá vêm elas como borboletas invadindo a alma. Guardamos seu eco na memória.

Ah, palavras! Muitas vezes pensei em dissolvê-las dentro de uma lagoa ou transformá-las em árvores em rubra floração. Mario Prata disse que se apaixonou pela palavra, e o amor veio depois.

Dom Pedro II casou-se sem conhecer sua noiva. Em Portugal tudo acontecia, as palavras dos pais, interesses políticos, mas isto acontecia através das palavras. Falam que quando o rei viu a noiva, ao chegar em sua bela cidade, Rio de Janeiro, mostrou a cara de assustado, pois a feiura da noiva chamava a atenção de qualquer um.

Ela o conquistou através das palavras. Minha mãe se casou com quem o meu avô queria, valia as palavras dos pais. Meu pai soube usar a palavra, ela se apaixonou por ele. Tudo depende da palavra, é ali que acontece a paixão.

Mas não se esqueçam que a palavra também é responsável pela fuga da paixão. São milhares de teorias sobre a importância da palavra. O livro “O Futuro da Humanidade”, prova-nos o domínio da palavra do escritor através dos milhares de exemplares vendidos.

Drummond também falava sobre temas como o desajustamento do indivíduo, ou as preocupações sócio-políticas da época, como em “A Rosa do Povo” (1945). Apesar dos temas fortes ele conseguia encontrar leveza para manter sua escrita com humor e uma sóbria ironia. Dominou ao longo de sua existência, a palavra.

Cito o escritor Alexandre Moreira, observem suas palavras “Abracadabra, que venha a iluminação. Abracadabra, que o corpo acorde em tempo. Abracadabra, que o universo nos livre das falcatruas. Abracadabra, nos acudam pelo amor de Deus”. Alexandre estrangula as palavras ou encaminha-as até as suaves e sonhadoras regiões dos poetas.

Seus temas são tratados com maestria, e diante dele a palavra se deixa dominar. Presenteio os leitores com a primeira e última estrofe do poema “Içara”, da escritora Elza de Mello Fernandes, no livro “Eco de Duas Vozes” – “Quero cantar as belezas desta terra, falar do verde das belas içarobas e das cantigas ao balanço dos flabelos, dos pássaros nas manhãs em algazarras e do índio entre os ipês e as perobas a murmurar Içara, Içara! Nome belo! – Parece que o criador em aquarela pintou este pedaço bem lá no princípio. Passando tintas, em matizes, numa tela desenhou o meu belo município…” As palavras de Elza correm atrás da magia, e o espírito humano se beneficia de todas as luzes vindas das suas letras. Salvem as palavras, palavras, pa..lavras!!!