Os indicadores econômicos do Brasil mostram que a última recessão ocorrida no país foi uma das mais severas de sua história. A estagnação econômica observada em 2014, as quedas do Produto Interno Bruto (PIB) apresentadas em 2015 e 2016 e o fraco desempenho em 2017 e 2018 mostram que medidas estruturais devem ser realizadas para que a economia crie um novo ciclo de crescimento sustentado ao longo do tempo.

Três períodos temporais

Em economia, a análise do impacto de políticas pode ser dividido basicamente em três períodos temporais: o curto, o médio e o longo prazos. No primeiro, considerando certa rigidez nos preços e salários, a demanda agregada, composta pelas famílias, empresas, governo e exportações líquidas, direciona o comportamento dos indicadores econômicos. No médio prazo, aspectos relacionados ao mercado de trabalho, denominado de oferta agregada, direciona o crescimento econômico em torno do seu produto potencial. No último período, longo prazo, o que predomina é o produto potencial que são determinados basicamente pelos níveis de estoque de capital, força de trabalho e tecnologia observados na economia.

E o que isso tem a ver? 

Mas o que tudo isso tem a ver com a perspectiva de crescimento para 2019? Voltamos à análise de curto prazo, cujos gastos de cada um dos agentes, relacionados à demanda agregada, podem ser classificados como autônomos e induzidos. Os gastos autônomos mantêm pouca relação com a renda corrente e costumam se alterar somente no médio prazo. Já os gastos induzidos mantêm uma forte correlação com os níveis de renda corrente. De forma semelhante, ao analisar o nível de investimento privado, podemos separá-los em dois componentes. Aqueles que são pró-cíclicos, isto é, quando ocorre aumento na atividade econômica os empresários ajustam os investimentos conforme suas expectativas de vendas. Esse componente pode ser entendido como gastos em investimento induzido pela renda corrente e também pela taxa de juros. Por outro lado, o investimento autônomo, a grosso modo, trata-se dos gastos em investimento em inovação tecnológica com o intuito de modernizar a capacidade produtiva da empresa. Nesse contexto, esse componente da demanda agradada aponta para um crescimento tímido para o ano de 2019 e deve-se situar em torno de 16% do PIB, apesar da perspectiva de baixa na taxa de juros.

Consumo 

A redução do crescimento da inadimplência, observado nos dois primeiros meses de 2019, e o aumento da oferta de crédito, segundo dados do Banco Central, destinado às pessoas físicas, indicam para uma possível retomada, ainda que de forma tímida, no consumo das famílias que ainda sente os impactos da elevada taxa de desemprego observada na economia brasileira. O resultado do comércio internacional, exportações e importações, poderá ser impactado pela instabilidade internacional e não deve repetir os indicadores observados nos anos de 2017 e 2018. A diminuição nas expectativas de crescimento mundial, os indicadores de crescimento aquém do esperado na Argentina, a guerra comercial entre Estados Unidos e China, a possível saída do Reino Unido da União Europeia e uma possível crise fiscal no país norte-americano corroboram tal análise.

Gastos do governo 

No que concerne aos gastos do governo, considerando a atual crise fiscal que passa o país, espera-se que no ano corrente esta rubrica não apresente aumento, portanto, um eventual estímulo da demanda agregada não ocorrerá por parte desse agente econômico. Os modelos que utilizo para realizar minhas previsões econômicas, especialmente aqueles relacionados à demanda agregada, apontam para um crescimento no ano de 2019 em torno de 1,5%, no caso em que medidas estruturais, especialmente a reforma da Previdência, forem aprovadas brevemente. A mediana de mercado aponta para um crescimento em torno 2% para o ano de 2019.  No caso em que as reformas microeconômicas, previdenciária e tributária, não forem aprovadas, entraremos em um novo ciclo recessivo.

 

Expectativas

Dois tipos de expectativas são considerados no campo econômico, a backward looking e a forward looking, em bom português, expectativas adaptativas e racionais, respectivamente. A última considera que os agentes econômicos tomam suas decisões no período atual considerando a expectativa formada sobre o que acontecerá nos próximos períodos. Já a primeira pondera apenas o comportamento passado dos agentes econômicos. Desde a década de 1970 as expectativas racionais têm tido um papel fundamental nos modelos econômicos contemporâneos. Isso significa que, se os agentes anteciparem mudanças no ambiente econômico, estas alterações serão incorporadas no problema de decisão, alterando dessa forma o seu comportamento atual e futuro.

Índices de confiança 

E atualmente como estão as expectativas das famílias e dos empresários no Brasil? Os índices de confiança empresarial e do consumidor com ajuste sazonal mostram um padrão bastante semelhante. Esses indicadores vêm apresentando uma recuperação desde 2016, ano em que apresentou os menores valores da série histórica. Os valores disponíveis, para os dois primeiros meses de 2019, mostram uma recuperação da confiança nesses segmentos, apesar da confiança de empresários e consumidores terem diminuído em fevereiro, quando comparado com o primeiro mês do ano corrente. Voltamos praticamente ao mesmo nível de confiança observado no terceiro mês de 2014. Por outro lado, o indicador de incerteza da economia brasileira, baseado em notícias que mencionam a incerteza econômica e nas expectativas de analistas econômicos, apresenta valores superiores à média histórica nos dois primeiros meses de 2019, aproximadamente dez pontos acima.

Como mencionado na apresentação, esta página será escrita a “três mãos”, por Amauri de Souza Porto Junior, Ismael Cittadin e Thiago Rocha Fabris, que assina a coluna de hoje.