Ex-governador e deputado federal vê novo bipartidarismo no Brasil
Redação ADI/SC
Em 2018, no meio da desavença porque Eduardo Pinho Moreira desistira de concorrer ao governo, o ex-governador Paulo Afonso Vieira, em conversa com o assessor Eraldo Peruchi, fez a previsão que o MDB iria acabar. O resultado daquelas eleições deixou a sigla fora do governo depois de ter liderado quatro mandatos com a superaliança construída por Luiz Henrique. Hoje, Paulo Afonso lamenta que as eleições de 2022 tenham representado mais “um passo gigante” rumo a essa morte lenta e sofrida daquele que foi o maior partido desde a redemocratização do Brasil. O MDB, observa Paulo Afonso, elegeu um senador no Brasil inteiro, Renan Filho, em Alagoas, e nem tinha outros candidatos competitivos.
A disputa altamente polarizada de 2022 não abateu só o MDB, mas foi coveira do PSDB, PDT, PSB, PP, PTB. Em Santa Catarina também mandou para casa sobrenomes tradicionais como os Amin, Bornhausen, Colombo e Berger. Esperidião, o antagonista de Paulo Afonso Vieira no passado, disputou sua última eleição, mas tem mais quatro anos de mandato no Senado.
Para Paulo Afonso, o inventário é claro e nem precisa esperar o resultado do segundo turno: o Brasil vai viver um novo bipartidarismo liderado pelo PL e PT. E não se trata, observa ele, de segunda onda bolsonarista, mas da “realidade bolsonarista”. “Em 2018, foi a onda que elegeu ilustres desconhecidos, em 2022 só passou nas urnas quem executou a pauta bolsonarista”, analisa o emedebista. De fato, o governador Carlos Moisés, por exemplo, que se afastou ou nunca pode contar com o apoio do presidente, não chegou ao segundo turno. As deputadas estadual Ana Campagnolo e federal Carol De Toni, hiperalinhadas com o Planalto, são as mais votadas.
Em Santa Catarina, o bipartidarismo será mais capenga que no Brasil, pela falta de viabilidade do PT. Com a provável vitória de Jorginho Mello, a tendência é que o PL engula as demais siglas, especialmente o MDB, colocando candidatos a prefeito tanto nos grandes como nos pequenos municípios. Caso Lula vença, estima Paulo Afonso, ainda haverá possibilidade de resgatar algum movimento de centro-esquerda no Estado. Se Bolsonaro vencer, a cena partidária catarinense ficará em total desequilíbrio, com a direita agigantada e a esquerda isolada.
Paulo Afonso tem avaliação perspicaz sobre Gean Loureiro (União Brasil) e seu silêncio no segundo turno. Ele avisa que não conversou com o ex-prefeito da Capital, mas tem a impressão que ele saiu das eleições com capital político para liderar a oposição no Estado e, quem sabe, uma construção política e partidária mais ao centro. Porque é o mais jovem dos candidatos e novidade em termos de estadualização.
O governador Carlos Moisés tem toda a simpatia de Paulo Afonso Vieira por nunca ter sido “bolsominion”. Embora pessoalmente também não tenha nada contra Jorginho Mello, ao contrário, foi ajudado por ele quando enfrentou o impeachment em 1997, o ex-governador foi o único a defender que o MDB ficasse neutro no segundo turno. Foi vencido, mas deixou os correligionários avisados que será muito difícil para o MDB voltar a ter projeto e relevância em SC. Colaboração Adriana Baldissarelli, ADI/SC.