Borboleta perdida

Honoré de Balzac, autor do livro Eugênia Grandet, patrono do romance ocidental e historiador de costumes, descreveu seus personagens com precisão e astúcia. Destacou-se no mundo da literatura entre os maiores romancistas de todos os tempos. Seus amores foram todos proibidos, acabou sozinho.

Vladimir Nabokov escreveu Lolita e alcançou grande sucesso. Foi arduamente criticado por descrever o amor de um homem de meia idade por uma adolescente. Na vida real, não foi bem sucedido no amor e foi morar na Suíça, dedicando-se ao estudo das borboletas.

Rubem Braga viveu parte de sua vida no meio dos livros, único escritor a conquistar um lugar definitivo na nossa literatura exclusivamente como cronista. Suas crônicas exaltavam as mulheres, os passarinhos, cajueiros, etc. As pessoas, em geral, à medida que adquirem conhecimentos não toleram mais o outro, como se eles passassem a amar eles próprios, segundo Arnaldo Jabor, escritor e jornalista.

Sentada no banco da praça, aproximou-se de mim uma velhinha: 75 anos, cabelos grisalhos, elegante e discreta. Durante alguns segundos, fiz de conta que nada via, o livro que lia era interessantíssimo. Porém, movimentei-me naquele espaço: um banco esquecido pelo tempo, sem cor, áspero e sem conforto. Cruzei as pernas rapidamente, encostei-me nela propositalmente, como uma saudação de boa tarde. Neste toque, a doce mulher fitou-me com belos olhos azuis que o tempo não havia desbotado, nos lábios um belo sorriso e disse-me:

_ Você está com um livro nas mãos, que lindo! Num impulso, abracei-lhe com carinho de filha, pois parecia ser a minha mãe… Quis matar a saudade, e ele me trouxe o jeito mais carinhoso do mundo.

Sorri e disse:

_ O livro que trago nas mãos, comprei para presentear meu filho! É um livro de crônicas de Humberto Werneck, sendo que apresenta autores de destaque, de todas as épocas, em diversos gêneros da escrita.

Ela se deu por satisfeita. Quieta, viajava por entre as borboletas e o colorido das flores que enfeitavam a praça. Acomodei o livro cuidadosamente dentro da bolsa, para não ter que dividir minhas atenções entre a senhora e o livro. Conversamos muito e, de repente, lança-me um olhar triste e me fala de um grande amor, seu marido, ele havia falecido há vinte dias.

Amaram-se e respeitaram-se, hoje a tristeza a invadia. Senti-me tomada pela surpresa e sem palavras, afinal, os entes queridos deixam um grande vazio em nossos corações. Sorri, uma lágrima teimosa caia sobre o meu colo, ela percebeu. Levantou-se vagarosamente e partiu, despediu-se de mim com um sorriso.

Permaneci ali, relembrei todos que morreram e me deixaram abalada. Antes de sair, tirei da bolsa o livro e li uma crônica de Rubem Braga – Despedida – e um trecho me chamou atenção: “Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso, lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus”.