Seremos uma fotografia ou nada?
Somos um pedaço de gente, ou ninguém? Oscar Wilde diria que temos caprichos como qualquer um, só que nossos caprichos não têm sentido, ou que somos pessoas que levam a existência artisticamente, e que nosso cérebro fica sendo o nosso coração. É estranho ler tais colocações…
A crônica “Seremos uma fotografia ou nada?” nasceu quando na garagem do supermercado ao entrar no carro com compras, aproximou-se de mim um adolescente que me reconheceu, segundo ele das páginas dos jornais. Perguntou-me: — Quem somos nós?” Respondi: — Somos quase nada nesse universo de caprichos e competições. Há momentos em nossas vidas de alegrias ou tristezas, e muitas vezes precisamos enfrentar com a alma o desafio da nossa própria existência. Ah, menino somos a poesia do Artemio Zanon: “… A alma se reclinando, entre o bem mal se comungando, um pássaro voando”. Entendeu? O pensador espanhol Ortega y Gasset diria que somos nossas circunstâncias. Já o artista plástico Telomar Florêncio diria que no futuro seremos na parede de algum lugar, apenas uma fotografia, e mais tarde nem isso.
É difícil mostrar o nosso real retrato, se bem que seria ótimo que lessem nossos pensamentos, gostaria que as pessoas nos vissem assim, não precisaríamos dar explicações e não existiriam dúvidas quanto a pessoa que somos. Somos na verdade personagens intensos, de uma humanidade arrebatadora, que se expõe e é julgada. Fizemos escolhas para sobrevivermos, aliás, tentamos sobreviver um dia a mais em situações extremas.
A vantagem de ser “gente” é que você não é cachorro, nem gato, nem cavalo. Você não é nenhum animal e não precisa obedecer seu dono, e não é uma árvore que fica plantada estaticamente até morrer. — Somos quem? Perguntou-me o menino, mais uma vez.
Sinceramente, quanto mais penso, concluo que não somos nada. Não adianta você empurrar as pessoas, destruir aquilo que não lhe pertence, não adianta…. Hoje pensei: “Como é difícil o amor nesse tempo de gente ruim, quando sua graça é devastada por qualquer um”. Talvez minhas palavras possam revelar a ingenuidade, mas mesmo assim tenho esperanças de ser o bálsamo para minhas próprias esperanças, falei em voz alta. Que os momentos que vivemos possam nos responder um dia, quem somos, e talvez valeu a pena viver.
De repente, entro no carro, guardo as compras e o menino tinha ido embora. E não perguntei seu nome, e não sei nada dele. Penso que ele nem existe, ou não gostou de mim ou se apaixonou por minhas palavras… O importante é que ele continue pensando. Será que o ser humano não é nada mesmo, ou apenas uma fotografia na parede?