Seu nome era Ivair
Seu nome era Ivair, o sobrenome não importa – só importa dinheiro – para esta história. Nunca teve qualquer apreço pela sua família. Nascera em Belo Horizonte, mas não gostava da cidade (gostava apenas de dinheiro). Nem uma pescaria na lagoa da Pampulha alguma vez o fez, também não gostava de peixe e detestava fazer caminhadas na orla da lagoa. Não era um homem de gostos diversos. Tinha apenas uma grande paixão – o dinheiro – e a este dedicava toda a sua existência.
Amava o vil metal e isto o encantava, fazendo sua vida ter sentido. O problema é que não tinha bens o suficiente para saciar sua gana. Sempre fora pobre, vindo de uma família humilde. Nem mesmo uma herança, por mais insignificante que fosse, jamais engordou a sua conta bancária.
Para satisfazer seu desejo, julgou que a única solução possível era ter amigos poderosos. Aprendeu cedo que para estar nas cercanias destes, algumas qualidades são imprescindíveis: mediocridade, covardia e subserviência. Nenhum esforço seria necessário, pois tais atributos eram inatos na sua personalidade. Além de possuir estes requisitos, Ivair tinha uma carência providencial: sua total falta de caráter. Conseguia ser tão arrogante com os humildes, mas como era subserviente estava sempre disposto a ser humilhado diante dos poderosos.
Com tais predicados conseguiu um emprego em uma empresa de terceirização de serviços, e acabou se casando com a filha velha e encalhada do dono da empresa. Então foi vivendo entre a feiura da mulher, o dinheiro e as humilhações do sogro.
Toda história perversa acaba com um final tristonho. Numa tarde chuvosa, Ivair embaixo de um guarda-chuva rasgado e fosco pelos anos de uso, corria até o banco com o bolso cheio de dinheiro para depositar na sua conta, imaginava o quanto enriqueceria. De repente, tropeçou numa pedra e foi de ponta cabeça no canto de um canteiro de flores que decora a Rua Marcos Rovaris. Os lojistas vieram correndo para ajudá-lo. Na queda o dinheiro espalhou-se pela rua e os transeuntes enlouquecidos o recolhiam (notas de 50). O tombo foi tão feio que, além de perfurar o cérebro e perder todo o sangue por ali, mais um castigo, os dentes frontais quebraram-se e via-se pedaços espalhados pelo chão. Sem contar que a peruca antiga que usava caiu ao lado do corpo, revelando um homem pálido e feio.
Ah! Esqueci de contar! Morreu na hora!