Diagnóstico de autismo gera mudança de vida

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Grupo de pais e mães com filhos autistas cria instituição para acompanhamento de forma gratuita
Ao seu redor, quatro paredes totalmente brancas. Não havia muitas decorações, nem de mais cores, o que tornava aquele consultório ainda mais silencioso para Sandremara Costa. O doutor ainda estava com as mãos apoiadas em cima dos papéis e naquele momento a encarava com um sorriso amigável. “Ele possui características do autismo”, dissera ele. A mulher ainda estava processando a informação. Para a mãe de Jhean Piérre, a sensação foi de alívio. O filho, agora com pouco mais de dois anos de idade, apresentava
algumas particularidades desde pequeno, do ponto de vista dela. Ele não a olhava nos olhos, chorava boa parte do tempo e passava a noite em claro na maioria das vezes. Ela não sabia dizer o que era e nem os profissionais. Agora, estava ali, ouvindo que seu fi lho possuía características do espectro autista. Ela não conseguia associar a palavra ao significado diretamente, não tinha conhecimento sobre o que era o autismo, e naquele momento imaginava que nem mesmo o doutor a sua frente. Como lidaria? O que ela poderia fazer? Era um mundo totalmente novo o qual ela estava entrando, mas se dedicaria passo por passo a compreender cada detalhe de seu funcionamento. Aquela noite sentou-se em frente a seu computador e procurou por todo conteúdo que conseguisse encontrar sobre Autismo, o que para sua infelicidade, não era extenso. Poucos sites, fóruns e livros que tratavam do assunto eram disponibilizados. Mas a pouca informação que conseguiu de início foi se multiplicando com o passar do tempo. Era comum o carteiro chegar toda semana com a encomenda de mais  um livro para sua estante, ou vê-la saindo constantemente para ir a palestras em cidades distantes dali. Sandremara queria entender o filho e mais que tudo queria saber o que poderia fazer por ele. Com toda sua bagagem de conhecimento até ali, ela já via Jhean como alguém dentro do espectro, porém ao ouvir mais uma vez sair da boca do neuropediatra o termo “traços de autismo”, percebeu que ele nunca havia a dado nenhuma comprovação. Pediu por um laudo definitivo e a confirmação da impressão que teve do doutor na primeira consulta, veio à tona: ele estava realmente
receoso.“Ele é um autista diferente dos outros. Das 21 características colocadas no teste, apenas a duas ele não correspondia. Entretanto, ele caminhou com um ano de idade, por exemplo. Ele é ativo para tudo!”. Sandremara escutou com atenção as palavras do doutor e então recebeu o esperado laudo. “Grau: Leve”, dizia o papel. A partir daquele momento e
com a ajuda constante da psicóloga do consultório, foi mais fácil para Mara identificar as ações do filho e saber como lidar com elas, aprendendo constantemente algo novo a cada dia. Jhean entendia as coisas de forma literal, então exclamar ordens como “sentar-se à mesa” passaram a ser policiadas por ela. Ou o trabalho de fazer uma pesquisa pré-
via e fotografar os lugares novos a qual iriam para apresentar ao filho, de modo que ele se sentisse preparado para enfrentá-los. Sua rotina é completamente alterada para atender a do fi lho único, mas ela sabe como a rotina é importante para ele. Desde então, Sandremara batalha por uma causa: proporcionar o atendimento necessário
para as centenas de famílias que possuem um membro dentro do espectro.
Hoje em dia a Terapia mais recomendada para o desenvolvimento da criança com TEA é
a chamada Análise do Comportamento Aplicada, ou Terapia ABA. Como explica a psicóloga
Thaís Cunha de Oliveira Kiquio, o método utilizado é de aprendizagem sem erro, onde a criança é encorajada a responder de forma correta as situações que lhe são apresentadas, com um profissional ao lado auxiliando de leve, até que a mesma desenvolva a habilidade
por conta própria. Para uma melhora definitiva no quadro, é indicado que a Terapia seja realizada 20 horas semanais, sendo aplicada na clínica, em casa e na escola. Ainda segundo Thaís, essa chamada coerência de intervenções é extremamente necessária para
o desenvolvimento da criança autista. Foi através de um grupo de mães com filhos autistas que nasceu a ideia de criar uma instituição que disponibilizasse todo tipo de acompanhamento necessário de forma gratuita. Foi nesta mesma associação que Sandremara conheceu diversos pais que queriam o mesmo que ela. Dessa
forma, nasceu a Associação Beneficente de Apoio ao Autista (ABAA).

“Como as pessoas com autismo apresentam dificuldade
em lidar com frustração e tendência a comportamento
repetitivo, a rotina estabelece uma antecipação que ajuda a
controlar imprevistos (…) Todas as vezes que elas precisam
lidar com o novo, isso gera um desconforto, uma ansiedade grande”
Amanda Dupin, terapeuta ocupacional

Depois de ter os detalhes todos planejados e registrado a instituição, ela, com outras mães, passou a apresentar o projeto nas prefeituras, em busca de um espaço para se instalarem de forma gratuita. Foi no município de Içara que conseguiram concretizar os planos. Abraçando o projeto, a prefeitura lhes cedeu o espaço inutilizado do antigo quartel
da Polícia Militar. “No início do ano o governador assinou a devolução do imóvel do estado
para o município, agora estamos à espera da abertura da licitação para iniciarmos a reforma”, conta Sandremara. A previsão é que a partir de julho a associação já esteja aberta para atendimento.

“Não é um diagnóstico fácil. Ele é clínico, então não tem um exame
específico. É feito através da observação e de um levantamento do histórico do desenvolvimento com os pais” Thaís Kiquio, psicóloga e especialista em
Terapia Cognitivo Comportamental