A mina de ouro e os índios

Os índios viviam na floresta, próximo à lagoa da Urussanga Velha; alimentavam-se das árvores frutíferas, dos peixes e de outros produtos colhidos nas roças de alguns agricultores que moravam na região.

O velho cacique organizava a aldeia, decretava ordens e vivia encostado a um tronco secular. Parecia imóvel, solitário, mudo. O guerreiro tatuado, na idade em que estava, esperava a morte chegar.

Como existia uma mina próxima à lagoa, uma vovó conta que existia muito ouro. Nas noites de lua cheia, de longe ela observava alguns mineiros com velas acesas se aproximando do carvão, mas ninguém conseguia encontrar a preciosa pedra.

Vinham de longe alguns barcos em busca da riqueza; nada conseguiam e acabavam morrendo. Algumas vezes ao sair do barco e entrar no navio que os esperava no mar, desapareciam. A resposta era sempre a mesma, porém a busca do ouro era proibida, pois pertencia aos índios.

Os índios saiam das ocas de dentro das florestas em busca do ouro.  Às vezes levavam anos até retirar o suficiente para transformar num presente e dar às amadas índias. Os indígenas sempre foram protegidos, e conseguiam passar de uma geração para outra: anel, pulseira, corrente ou uma preciosidade extraída dos lugares proibidos.

Muitos lavradores obrigavam seus escravos a invadirem as ocas, sem matar ninguém, na busca do ouro. Às vezes levavam roupas e alimentos e conseguiam a troca. Mas a tal peça terminava sumindo da casa dos agricultores ou as mulheres perdiam e nunca mais encontravam a preciosa joia construída pelo cacique.

Tentando imitar os índios, uma família de agricultores que morava próximo à selva resolveu ir atrás do ouro. O único objetivo era vender para um ourives que morava em Florianópolis, cujo dinheiro seria o suficiente para comprar um pedaço de terra e construir uma casa nova para a família.

Lutaram em busca do precioso tesouro e nada conseguiram. O filho de um agricultor, após sua loucura de dia e de noite em busca do ouro, foi encontrado morto próximo à lagoa. Muitos lavradores, sabendo da história, com medo e sem coragem, decidiram viver do que plantavam e de frutos do mar.

A vida melhorou porque esquecerem do ouro que não lhes pertencia e nunca mais foram até a mina ou nas ocas dos índios. E construíram ali uma escola; as crianças começaram a ler e escrever. Uma das moradoras de Urussanga Velha escreveu sobre a história da terra e a transmitiu a seu povo.

O nome Urussanga foi criado por um índio. Conta-se que ele saiu para caçar e matou um uru e o deixou cair na sanga. Desesperado gritava: uru– sanga.

Mais tarde, um branco se apaixonou pela indiazinha Mauí; o cacique quis matá-lo. Ele foge e ela de tristeza morre. Foi enterrada na entrada da taba e no lugar nasceram umas ramas, como se da terra se levantassem belas e verdes. Mais tarde os índios as transformaram em alimento, uma deliciosa farinha, a maui-oca e mais tarde mandioca.

Outro fato indígena é que a índia conhecida como Moroti vivia nadando na lagoa sem tirar a pulseira de ouro que ganhou de um índio chamado Pitá. Um dia perdeu-a na lagoa e disse ao índio: “Encontre minha pulseira de ouro, mostre que é valente e corajoso”! Ele não conseguiu encontrá-la e acabou se afogando. A índia, sentindo-se culpada, jogou-se nas águas e morreu.

Até hoje existe nas águas uma luz, e alguns lavradores que ainda moram em Urussanga Velha associam a luz ao ouro e aos índios que ali viveram.

E não mais existe um índio na terra tão iluminada e nunca esquecida, mas é possível ir até a capela São Pedro, reunir-se com seu povo e relembrar dos índios e da bela comunidade que adora contar-nos as suas lendas.