As condições climáticas severas não trazem consequências apenas à população: podem gerar sérios problemas à agricultura. Com previsão de temperaturas acima da média neste verão em Santa Catarina, a produção se torna um desafio, visto que a exposição ao sol e o calor intenso provocam uma série de danos às plantações, sobretudo nas de verduras.

“O cultivo de hortaliças é mais fácil no inverno, porque não temos muitas adversidades que atrapalham a produção. No verão, o sol acaba queimando as folhas verdes, como alface, couve, chicória, agrião. E a temperatura resseca e desidrata essas folhas”, explica o engenheiro agrônomo do escritório da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) de Içara, Luiz Fernando Búrigo Coan.

A solução para amenizar os impactos é o regulamento da irrigação e a adoção de alguns equipamentos. “O produtor precisa entrar com um processo de irrigação diferente (de outras estações do ano), utilizar estufas, sombrites (proteção contra o sol)”, sugere.

Os agricultores vão precisar de soluções para enfrentar as altas temperaturas deste verão. O Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Ciram) da Epagri prevê ainda mais duas ou três grandes ondas de calor atingindo o Estado neste trimestre.

O ano já iniciou quente e essa condição se manteve na semana passada. Na última segunda-feira, o centro de informações registrou temperatura de 33ºC em Içara, valor que subiu na terça e beirou os 40ºC nessa quarta-feira. O calor intenso deve continuar até sexta-feira.

 

Reflexos

 

Engenheiro agrônomo e produtor de orgânicos e morangos na comunidade de Vila Nova, em Içara, Vitor Soratto Budny conta que o calor intenso deste verão está afetando diretamente a sua produção de hortaliças.

“O verão atrapalha bastante a produção. Estamos tendo muitos prejuízos, porque as folhosas (alface, couve, cebolinha) não são plantas feitas para essas altas temperaturas. Mas nós já esperávamos um verão bem quente, porque as previsões já indicavam temperaturas acima da média”, afirma.

“Mesmo a gente utilizado sistema de irrigação e cobertura nas plantações, as plantas secam muito com o calor, e quando algumas conseguem vingar, o sol queima”, relata o produtor.

Para proteger a plantação do sol e das tempestades – características do verão, o agricultor utiliza estufas e tuneis agrícolas. “O plantio em estufas e sombrites protege a plantação do sol, da chuvas e do granizo. Hoje eu tenho cultivos protegidos”, expõe.

Ao total são dois hectares de plantio, nos quais Budny cultiva alface, couve, cebolinha, rúcula e morangos. Atualmente, o produtor está cultivado apenas as hortaliças, pois aguarda a época adequada para plantar os morangos.  “A partir de abril, a gente começa a plantar os morangos. Agora a gente está preparando o solo”, detalha.

 

Temporal

 

O temporal de terça-feira, no entanto, não resultou em prejuízo a lavouras de Içara. “A gente acredita que não teve tantos problemas porque a chuva foi bem e distribuída. Não choveu tanto na Segunda Linha e próximo da praia (onde se concentra a maior parte da área rural. A maior concentração ficou aqui na região do Centro”, lembra Coan.

“O milho acredito que não foi atingindo, pois ele ainda está novo. Caso ele estivesse próximo da colheita, também não teria tantos problemas, seria possível recuperar. Eu conversei com o Samuel Matiola, que planta uva, e ele disse que não afetou a plantação”, relata.

“As hortaliças são as mais prejudicadas com essas tempestades, porque são mais sensíveis. Mas não recebemos nenhum relato de agricultor de hortaliças”, pontua o engenheiro agrônomo.

 

Epagri oferece informações e suporte aos agricultores

 

Os produtores cadastrados na Epagri de Içara contam com o auxílio dos engenheiros agrônomos Luiz Fernando Búrigo Coan e Saymon Zeferino, no acompanhamento do plantio até a colheita.

“Fazemos o possível, dentro das nossas limitações. Hoje somos dois atuando na parte técnica da Epagri. Mas mesmo assim, realizamos com frequência visitas às propriedades. Quando os agricultores chamam, damos um jeito de ir”, assegura Coan.

Um exemplo do suporte dado aos produtores é na questão da escolha do adubo para a plantação. “Nós colhemos a terra (o solo do plantio) e depois levamos para fazer análise. Posteriormente, indicamos qual o tipo de adubo ideal para aquele solo”, comenta o engenheiro agrônomo.

Os produtores orgânicos ganham uma atenção especial no plantio, já que a forma de produção é diferente e requer mais atenção. O responsável pelo acompanhamento dos produtores orgânicos é Zeferino, que no momento está de férias.

“A cada dois meses, o Saymon realiza reuniões com esses produtores para tratar da parte do gerenciamento, da parte técnica. Ele também realiza excursão com os agricultores a plantações orgânicas”, relata Coan.

Além disso, os produtores têm contato com as novas tecnologias do mercado. “Nós temos parceria com agropecuárias que trazem novas tecnologias aos agricultores, a exemplo dos sombrites”, salienta.