Em meio à pandemia, inflação está em queda

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Maior índice do ano foi registrado em fevereiro – 0,25% –, enquanto em março caiu para 0,07% e em abril houve deflação de 0,31%, segundo dados do IBGE

Criciúma

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta um dos impactos gerados pela pandemia de coronavírus na economia brasileira: a deflação. Os números mostram queda nos dois últimos meses, justamente quando as restrições às atividades passaram a ser adotadas no país.

Após registrar taxa de 0,21% em janeiro, o IPCA, que mede a inflação oficial, chegou a 0,25% em fevereiro, a mais alta nos quatro primeiros meses de 2020, puxada pelos reajustes praticados no início do ano letivo. Mesmo assim, foi o menor índice para o mês em 20 anos.

Em março, a inflação desacelerou para 0,07%, o menor resultado para o mês desde o início do Plano Real, em julho de 1994. Puxada pela queda de 9,59% no preço dos combustíveis, o país teve deflação de 0,31% em abril, a menor variação mensal desde agosto de 1998, quando chegou a -0,51%. Com isso, no acumulado do ano, o IPCA registrou 0,22% e, nos últimos 12 meses, ficou em 2,40%.

O comerciante Charles de Bem Feliciano reconhece que percebeu a redução no preço dos combustíveis, mas diz que essa foi a única queda notada. “Para nós, o preço das mercadorias não diminuiu. Pelo contrário: algumas estão aumentando, principalmente por causa da falta de chuva”, declara o empresário.

Proprietário de uma mercearia no Bairro Santo Antônio, em Criciúma, ele conta que itens como leite e hortifrútis tiveram aumento significativo devido ao clima. “Em Pernambuco, a produção de cebola foi perdida por causa do excesso de chuva e aqui em Santa Catarina faz tempo que não chove. Com isso, o quilo da cebola pode chegar a R$ 10”, cita. Já outras mercadorias estão em falta, de acordo com Feliciano. “Alguns produtos como utensílios plásticos e os produtos que vêm da China”, detalha.

Conforme o IBGE, a maior contribuição positiva no IPCA de abril (0,35%) veio do item Alimentação e Bebidas, que segue aumentando e acelerou em relação ao resultado do mês anterior (1,13%), com destaque para as altas da cebola (34,83%), da batata-inglesa (22,81%), do feijão-carioca (17,29%) e do leite longa vida (9,59%).

Cenário esperado

O economista e professor Thiago Fabris, coordenador do Observatório de Desenvolvimento Socioeconômico e de Inovação e coordenador adjunto do curso de Ciências Econômicas da Unesc, afirma que a queda nos índices de inflação já era esperada e esse é o cenário projetado para os próximos meses.

“O sistema econômico como um todo vive um período sem pressões inflacionárias, por razões relacionadas especificamente à queda da demanda. Muito embora se observe liquidez, esses recursos não estão sendo direcionados para a parte do setor produtivo.

Se for observar a capacidade instalada da indústria, construção, serviços, a produção está bem abaixo”, pontua.

De acordo com o analista, na conjuntura atual, registrar deflação não é um sinal positivo para a economia. “Era preferível estar com uma inflação controlada, dentro da meta estabelecida pelas autoridades monetárias. Não só o índice de inflação, mas outros indicadores mostram que devemos entrar em um período de recessão da economia como um todo. O ambiente de incerteza, junto com inflação baixa ou deflação, não é bom para o sistema econômico”, explica.

“Estamos num período de volatilidade ainda, com incertezas do ponto de vista econômico, político e internacional, que devem impactar no cenário futuro. Pelos modelos que se apresentam, trabalhamos com queda na atividade produtiva entre 4 e 8% e aumento na taxa de desemprego, então não deve ter pressão no aumento de preços nos próximos meses”, entende o economista.