Mães trabalhando na linha da frente contra o coronavírus relatam a atual rotina

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Cuidado com os filhos, consigo mesma e com os pacientes gera aumento do estresse

Içara, Criciúma e Rincão

O isolamento social, causado pela disseminação do coronavírus, fará com que muitos comemorem este Dia das Mães de maneira diferente. A situação atual tem modificado, além dos planos, a vida cotidiana de todos. Como destaque nesta data, confira a história de mulheres que atuam na linha da frente e possuem ainda o maior encargo: o de ser mãe.

Monica Dalmolim Soratto é enfermeira na Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h), em Criciúma, e com seus 10 anos de carreira, confessa que nunca imaginara passar por algo parecido com o momento atual. A proteção durante o horário de trabalho e fora dele tem sido intensa, assim como a rotina. Mas ela afirma que em nenhum momento, durante a pandemia, pensou em desistir. “Amo o que faço. Estar ali, podendo ajudar a quem precisa, não tem preço”, diz.

A enfermeira volta todos os dias para a casa. Apesar de todos os cuidados de prevenção ao sair do ambiente de trabalho, um certo medo permanece, mas, como a mesma conta, não conseguiria ficar longe da filha. Com seis anos, Vitória entrou há pouco na fase de alfabetização, e com as aulas acontecendo de forma online por conta das regras de isolamento, a mãe agora também tem que fazer o papel de professora. “As aulas em EAD não são um processo fácil. Preciso ficar ao lado durante todo o tempo de aula, ajudando em tudo”, comenta Monica.

Para Andreia Batista Bialeski, que é professora de enfermagem na Faculdades Esucri, a situação no ramo da educação foi uma reviravolta. O processo de adaptação com as novas ferramentas e meios de dar aula e levar o conhecimento até a casa de cada aluno continua acontecendo todos os dias. Também enfermeira na Clínica de Nefrologia do Hospital Regional de Araranguá, Andreia relata sobre a alteração na rotina dos corredores, e o sentimento de insegurança por todos da equipe. “Tomamos todos os cuidados necessários para, se caso aparecer algum paciente com diagnóstico positivo, estarmos prevenidos da situação. Mas hoje não sabemos quem pode estar ou não com o vírus” conta.

Conforme descreve ela, é visível que os profissionais estão vivendo no seu limite. Com o assunto sendo Covid-19 a todo o momento, os níveis de estresse aumentam. “Eu acho que, emocionalmente, os profissionais não estão sendo assistidos. Quem sabe com um planejamento com conversas e apoio emocional, pudéssemos acalmar um pouco o coração”, sugere Andreia, que ainda destaca a fase sendo difícil em dobro para as mães.

Com um filho de 14 anos em casa, ela precisa tomar todos os cuidados ao voltar do ambiente hospitalar diariamente. O contato com os familiares tem sido o mínimo possível e a saudade de dar um abraço e um beijo naqueles que ama é recorrente. Isolada no quarto em casa e saindo de madrugada para voltar ao trabalho, sua dedicação atual é a rotina da clínica, tomando os cuidados necessários para não trazer os riscos para a família.

Luciana Isolde Nunes Bongiolo é médica obstetra no Hospital Unimed e desde o início da pandemia não pode parar os atendimentos. Cerca de 80 pacientes no pré-natal necessitam das consultas e, assim, no consultório, o trabalho seguiu normalmente. Nos corredores do Hospital a rotina mudou drasticamente. Se adaptar com a nova rotina e as mudanças inesperadas tornou-se necessário. “No início foi muito tumultuado pois não sabíamos como lidar corretamente com a situação. A cada dia é uma adaptação diferente, isto porque a rotina de todos mudou e continua mudando. Tivemos que nos reorganizar, não apenas no trabalho, mas também no ambiente do lar”, relata.

Mãe de gêmeos, Ricardo e Giovani, a médica sente diariamente o receio de ir para casa vindo do ambiente hospitalar. As mudanças na residência também se tornaram necessárias. Antes não comum, o hábito de manter os sapatos do lado de fora e deixar um frasco de álcool 70% já na porta de entrada, agora é rotina. Todos cuidados necessários para evitar trazer a contaminação para perto daqueles que ama.

Já com os pais, a distância teve de ser obrigatória. Presentes no grupo de risco, o contato com a filha tem sido apenas por vídeo chamada, ligações e mensagens. “Este ano vai ser diferente de todos. Nunca passei um Dia das Mães longe da minha, e este ano vamos passar distantes por conta da pandemia. Mas como prova do amor que sentimos por ela, ficaremos todos reclusos em suas casas”, diz Luciana, não deixando de sentir tristeza com a situação atual.

Tarefa difícil

Para as três mães, fazer a ponte do cuidado com os filhos e a rotina do serviço tem sido uma tarefa difícil. “Criança não tem tanta noção da gravidade do que vem acontecendo! Mas tento ensinar a ela, da melhor forma possível, como deve se prevenir”, conta Monica. Já para Andreia, o fato de ter que se distanciar dos filhos e negar a aproximação é o que mais a entristece.

Este Dia das Mães será diferente, mas apesar das diversas mudanças dos últimos meses, o amor fraternal não muda. A data será feita de forma isolada no caso de Andreia, com os filhos André e Jonatan. E para com a mãe, a solução vai ser a ligação por telefone. Monica também, assim como o mais indicado, celebrará em casa. “Sem muitas opções para este ano, mas estando ao lado dela já é o que importa! Afinal, ela é meu motivo por comemorar esta data”, encerra.