Balneário Rincão e seu berço de ouro

É neste Berço de Ouro, Balneário Rincão, que tudo acontece com ternura. A vovó de mão enlaçada com o amado caminha lentamente, buscando as ondas e o encontro com o mar. Debruço-me sobre o muro e sinto um perfume de “mãe”. Eles desenlaçam suas mãos, ao perceberem meu olhar querendo trazê-los para perto de mim. Abaixo-me disfarçadamente e colho algumas rosas imaginárias que há no jardim. Como se eles tivessem nascido outra vez, seus passos lentamente se afastam de mim, ela com seu vestido de chita, despede-se com um sorriso feliz. O momento é suavizado, e afastam-se em direção as ondas… O mar mora próximo ao meu lar, as pessoas me enviam carinhos com seus olhares e as ondas se abraçam enquanto durmo. As moças desfilam com beleza, nas mãos os celulares. De repente uma cavalgada à beira-mar e mais de 200 cavaleiros e amazonas, nobres paladinos, e penso: “São de onde e para onde vão”? Incrível é que um deles grita alto: “Escritora, que livro está lendo? Não sei como percebeu, e lhe respondo: O livro do escritor Pinheiro Neto “Poemas Reunidos” e solto no ar alguns versos – As águas se abrem, a lua se enfeita, as estrelas descem – se achegam- é noite de pesca, pesca de dor, de frio, de sofrimento. Pesca da dor, pesca do amor”. Lá longe, os pescadores com suas redes de pesca presenteados e são presenteados pelos deuses do mar. De adultos se transformam em crianças, quando um peixe desfila do seu habitat até suas mãos. Os pequenos correm, aproximam-se do mar, e os pais andam silenciosamente querendo alcançar os seus bebês. Quando estou só reconheço e me esqueço. É a liberdade que me abraça, mas sem sorrir, talvez porque me encontra assim: livre e esquecendo tudo o que existe, importa os livros envaidecidos na biblioteca fantástica olhando para o mar? Não sou triste e sou feliz (neste momento), sou Poeta? Alguém escreveu assim um dia, deveria estar vivendo no segundo andar, de onde se abraça as ondas do mar? Creio que a vida será sempre entendida pelos meninos e meninas que vivem próximo ao mar, aqui a felicidade toma conta de quem ora. Na praia, algumas árvores, aves e flores se beijam de verdade. Toda a realidade olha para mim como uma máquina de costura com a imagem dela no meio, minha mãe que já partiu. Sei que sua arte alegrava a sua vida, os bordados e os vestidos belíssimos nasciam de sua inspiração e ágeis mãos delicadas, deixavam os príncipes e princesas se sentirem felizes nas festas e bailes do Clube Ipiranga. Anoitece, os visitantes da praia estão saindo do Berço de Ouro. Anoiteceu e minha poesia fugiu de mim, talvez foi até as águas cristalinas, inclinou-se tão natural sobre as ondas em desfile e adormeceu. A alma do poeta tem uma necessidade vital de articular a vida, ressuscitá-la, sensibilizar e transformar. Mesmo que cante tantos desencantos, nunca deixará de acreditar na humanidade e de reformar o que está imperfeito. Se alguém confundir a palavra de um Poeta, saiba que seu impulso é o mais puro e secreto…