POETAS E SONHOS CARNAVALESCOS

Lima Barreto dizia que o Carnaval significava alegria e espantava a tristeza. E acreditava que as criadas, patroas, doutores e soldados abraçavam a folia carnavalesca.  Escreveu romances, sátiras, contos, textos jornalísticos e críticas. Em seus escritos citava as injustiças sociais. Despojado e sem medo criticava o regime político. “O abismo abriu-se a meus pés e peço a Deus que jamais ele me trague, nem mesmo diante dos meus olhos… De mim para mim, tenho certeza que não sou louco”.

Manuel Bandeira lançou em 1919 a obra “Carnaval”. Escreveu após um forte surto de gripe espanhola assolar o Rio de Janeiro em 1918, e só a folia servia para lavar a alma da população. Bandeira se inspirava fortemente na manifestação cultural e os sentimentos de liberdade do Carnaval lhe influenciavam com riqueza em suas temáticas: musicalidade, humildade e sexualidade.

Clarice Lispector – Existia o espírito carnavalesco enquanto se escondia… “Restos de Carnaval”, 1968, e enriquecia os momentos carnavalescos. Suas palavras: “Nunca tinha ido a um baile infantil, nunca me fantasiaram. Em compensação deixavam-me ficar até umas 11 horas da noite à porta do pé de escada do sobrado onde morávamos, olhando ávida os outros se divertirem… Foi quando aconteceu, por simples acaso, o inesperado, fizeram para mim uma fantasia de rosa… E naquele Carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra, não eu mesma”.

Carlos Drummond de Andrade e sua genialidade encantava os carnavalescos. Escrevia de forma simples aos olhos da maioria, pois não adiantava levar suas imaginações aos sábios, apenas. Foi homenageado com um samba em 1987 na rica Mangueira. “Um Homem e seu Carnaval” e disse: “Deus me abandonou no meio da orgia entre uma baiana e uma egípcia. As fitas, as cores, os barulhos passam por mim de raspão. Pobre poesia. O pandeiro bate. É dentro do peito, mas ninguém percebe. Estou lívido, gago. Eternas namoradas…”

Raul Pompeia, ainda no fim do século XIX, viu pela primeira vez o cortejo de rua do Recife, escreveu um texto embevecido no jornal para o qual colaborava, o mesmo em que publicaria depois o inesquecível livro “O Ateneu”. Já no início do século XX, um alegre Lima Barreto filosofaria sobre a importância de se deixar o tantã espancar “a tristeza que há nas nossas almas”.

Sergio Porto, com o heterônimo Stanislaw Ponte Preta, criou crônicas que revelavam com humor as coisas que ocorriam após o Golpe Militar de 1964, e publicava no Jornal Última Hora: “Por que não escreves uma história de Carnaval?” Olhem, até que não é má ideia. Claro que tomarei cuidado, nada de usar a palavra “fulgor”, ou combinar o adjetivo “estonteante” com o substantivo “alegria”. É da máxima importância não dizer que “esta vida é um Carnaval”. Todos nós temos um Carnaval para recordar…”

Em Minas Gerais um delegado proibira que as mulheres surgissem quase nuas, isto é, com as pernas de fora em bailes carnavalescos. Outros escritos: “Fantasias que ofendam as Forças Armadas”, “Como se perna de mulher alguma vez na vida tivesse ofendido as armas de alguém!”

Feliz Carnaval!